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Ficar em casa é manifestação de solidariedade e de civilidade

Por Carlos Alberto Rocha*

Vendo toda a movimentação desse pessoal que, em plena pandemia, não abriu mão dos churrascos com os amigos, dos encontros com a família, dos passeios para todos os lados ou de quaisquer outras atividades que poderiam ser evitadas no momento, mais uma vez, vejo confirmar o quanto os valores que a Educação Ambiental (EA) se propõe a promover são essenciais. Neste aspecto, em sua meta de tornar a humanidade apta a viver de forma sustentável sobre o planeta, de maneira simplificada, poderíamos ver a EA como o conjunto de processos que busca fazer com que as pessoas assumam os deveres e as responsabilidades que elas têm como cidadãs.

Afinal, consciente do papel que pode e que deve exercer na sociedade, o cidadão também consegue entender que ele não é responsável somente pelo próprio bem-estar ou, quando muito, pelo bem-estar das pessoas mais próximas. Muito além, ele percebe que a responsabilidade que cada indivíduo detém abrange várias outras pessoas, inclusive aquelas que estão muito distantes.

Sem esta consciência, buscando atender apenas às próprias necessidades ou a caprichos imediatos, as pessoas se tornam potencialmente destruidoras delas mesmas e, o que é pior, acabam estendendo a capacidade de destruição ao outro. Devemos convir que a pessoa inconsciente da própria responsabilidade é aquela que não cuida do próprio lixo, que não respeita as ordenações urbanas, como as de trânsito, por exemplo, e que, entre tantas outras formas de comportamentos inadequados, é aquela em tempos de pandemia é incapaz de seguir as regras fundamentais de isolamento social.

Novo normal

Ora, no meio de toda a aflição que a covid-19 jogou sobre nossas cabeças, temos ouvido falar sobre um “novo normal”, que, na verdade, nos soa como uma condição distópica. Entretanto, talvez esteja aí uma excelente oportunidade para construirmos novos conceitos, que sejam capazes de nos aproximar mais do que realmente deveria ser a civilização.

Felizmente, é de se esperar que algumas boas novidades surjam daqui a algum tempo. Como disse Einstein, dificuldades e obstáculos são fontes valiosas de saúde e de força para qualquer sociedade, o que já ficou provado pelos inúmeros períodos de intenso desenvolvimento social, cultural e tecnológico que vieram após as tantas outras crises que a humanidade atravessou ao longo da história. Portanto, é de se esperar que algo verdadeiramente transformador surja depois desta pandemia ou mesmo durante ela.

Solidariedade

De fato, a despeito das loucuras da política e das convulsões sociais que têm acontecido mundo afora, podemos perceber um movimento de solidariedade bastante amplo, que tem se desenvolvido de várias formas e em várias frentes, o que já pode ser visto como uma consequência positiva da pandemia. Pois a boa notícia é que a solidariedade é um pré-requisito indispensável para que a civilização se estabeleça.

Falando sobre isso, em um tuíte recente, a ambientalista Natalie Unterstell mencionou a resposta da antropóloga cultural norte-americana Margaret Mead (1901 – 1978) dada a um aluno, que a perguntou qual seria o primeiro sinal de civilização que deveria ser observado em uma determinada cultura. Na expectativa de ouvir falar sobre panelas de barro e ferramentas, o rapaz se surpreendeu com o relato da cientista sobre um fêmur humano quebrado e cicatrizado que foi encontrado em uma escavação.

Ao aluno, a antropóloga explicou que, na natureza, um animal que quebra a perna geralmente é deixado à própria sorte e, sem capacidade para prover o próprio sustento e indefeso, acaba morrendo de fome, se antes não for atacado por algum predador. Por sua vez, aquele osso cicatrizado encontrado em uma escavação pode ser visto como o indicativo de que a vítima da fratura certamente foi socorrida por alguém que a levou para algum lugar seguro, onde foi cuidada até que se restabelecesse.

Pois, ajudar alguém durante a dificuldade é quando a civilização começa, teria concluído Margaret.

Se possível, fique em casa

Como agora estamos vivendo momentos de dificuldades das mais graves, também estamos diante de oportunidades únicas para demonstrarmos o quanto somos civilizados e, mais do que isto, para desenvolvermos os nossos princípios de civilização para muito além daqueles que exercemos hoje. Cuidarmos uns dos outros, como membros da mesma espécie e habitantes do mesmo planeta, pode ser uma forma incrível de, finalmente, nos tornarmos verdadeiramente civilizados.

Neste sentido, a Educação Ambiental nos indica vários caminhos possíveis. Entretanto, agora, durante a pandemia, de uma forma muito simples e sem nenhum esforço, podemos agir neste sentido. Pra isso, basta ficar em casa, sempre que possível.

*Jornalista, especialista em Educação Ambiental, Carlos Alberto é presidente da Amoran e editor do Comunidade Ativa