Saúde & Qualidade de Vida

Por que devemos ter maior cuidado com a hidratação no inverno?

Com a queda das temperaturas devemos ficar mais atentos para os riscos de desidratação. Afinal, ao contrário do tempo quente, quando o calor, por si, favorece a ingestão de líquidos refrescantes, no frio as pessoas tendem a beber menos água, o que não é nada saudável.

De acordo com a médica e professora da Faculdade de Medicina da USP Ana Escobar, é natural que as pessoas sintam menos sede nos dias mais frios. “Por isso precisamos estar mais atentos à nossa hidratação. Como suamos menos acreditamos que necessitamos de menos água. Mas não é bem assim. A perda insensível de água pode ser um pouco menor, mas a necessidade corporal de água continua sendo essencial e se não for corretamente suprida pode até levar à desidratação”, alerta a médica.

Para a professora, a melhor dica é manter uma garrafinha de água próxima para facilitar a ingestão sempre que o corpo indicar um mínimo de sede. “Também observe o xixi, pois a urina escura é também um sinal de que você precisa tomar mais água”, ela aconselha.

Mais atenção com crianças e com idosos

Por terem mecanismos de sede mais delicados, as crianças e os idosos constituem dois grupos que precisam ser acompanhados de perto. No primeiro caso, porque, comprovadamente, há uma tendência de os pequenos ingerirem menos água. Levantamentos da Pesquisa Nacional de Exames de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos indicam que, na média, as crianças bebem menos água do que deveriam, situação que pode se agravar ainda mais no inverno.

A esta tendência podem se somar outras situações que contribuem para que a criança se desidrate, como exemplifica a pediatra Neuma Kormann . “Quando a criança fica muito agasalhada em uma temperatura que não está tão baixa, ela também vai suar e desidratar”, alerta. Segundo médica, o uso de aquecedores, que é frequente nesta época do ano, também contribui para que a desidratação dos pequenos ocorra no inverno.

Os idosos, por sua vez, são normalmente suscetíveis a se desidratarem em qualquer tempo. “Por causa da diminuição do sistema de termostase (mecanismo que ajusta a temperatura do corpo), eles acabam desidratando mais rapidamente, porque o organismo apresenta uma diminuição do número e da sensibilidade de receptores corporais que controlam a sede”, explica o neurologista André Lima.

Além disso, como esclarece a geriatra Sílvia Lagrotta, as pessoas mais velhas são normalmente menos hidratadas do que as mais jovens e tendem a perder água mais facilmente. “Elas não conseguem segurar esta água, que já é pouca. É por isso que sentem mais calor e também mais frio, já que as camadas da pele são mais finas”, diz Sílvia.

A médica destaca ainda que o uso de determinados medicamentos — como anti-hipertensivos e diuréticos, por exemplo — favorece a eliminação de água, o que exige reposição contínua.

Ar seco

A baixa umidade do ar, que é frequente nesta época do ano, é outro fator que precisa ser considerado. O otorrinolaringologista Victor Lamônica destaca que, com o ar mais seco, há o ressecamento das mucosas do nariz e da garganta, o que torna o surgimento de doenças respiratórias mais frequentes no inverno.

Segundo Lamônica, nesta época do ano a poluição atmosférica tende a ficar mais dispersa, o que aumenta o risco de os poluentes atingirem as vias respiratórias. ” Os vírus e bactérias também permanecem por muito mais tempo em contato com nossas mucosas, aumentando os índices de infecções”, explica.

Alimentação e ingestão de líquidos

De acordo com Lamônica, a alimentação correta é fundamental para amenizar os riscos à saúde que a desidratação pode causar no inverno. “Há alimentos que não favorecem a hidratação e que devem ser evitados em épocas muito quente ou de baixa umidade do ar. Por exemplo, peixes, carne seca, queijos, chocolates em excesso, frituras, alimentos gordurosos e enlatados, temperos industrializados, manteiga com sal e também bebidas alcoólicas. Alimentos como abacate, açaí, arroz integral, abóbora, acerola, agrião, banana, batata cozida, brócolis, couve, cenoura, espinafre, feijão, laranja, kiwi, manga, melancia, mexerica, pepino, pimentão e tomate cru são indicados como forma de hidratação alimentar”, recomenda o médico.

Usar soro fisiológico no nariz e lágrima artificial nos olhos também são medidas aconselhadas pelo especialista. “Deixar uma toalha molhada nos cômodos da casa, evitar exercícios físicos entre 11h e 18h, período de maiores temperaturas e menor índice de umidade do ar, ingerir grande quantidade de líquidos também é recomendado”, diz Lamônica.

Quanto de água beber?

De maneira simplificada, inclusive corroborada por alguns médicos, recomenda-se ingestão de 1,5 a 2 litros de água por dia. Entretanto, a partir de um critério mais aprimorado, é sabido que o volume de água que cada pessoa deve ingerir precisa levar em conta uma série de fatores, tais como idade, peso corporal, atividade física desenvolvida, entre outras.

De acordo com as especialistas em nutrição Carrol Lutz e Karen Perzytulski, autoras do guia Nutrition and Diet Therapy, pessoas que praticam atividades físicas intensas, por exemplo, precisariam tomar entre 500 ml e 1 litro de água a cada hora de exercício, o que dependeria de uma avaliação profissional, conforme o tipo de exercício praticado. Para facilitar as avaliações em atividades normais, as autoras relacionaram a idade com a quantidade de água que deve ser ingerida diariamente, de acordo com o peso da pessoa. Confira!

  • Jovem ativo até os 17 anos: 40 ml por cada kg de peso.
  • Dos 18 aos 55 anos: 35 ml por  kg de peso.
  • Dos 55 aos 65 anos: 30 ml por kg de peso.
  • Mais de 66 anos: 25 ml por kg de peso.

Portanto, de acordo com estas recomendações, alguém que tenha 40 anos e 60 quilos  precisa ingerir cerca de 2 litros de água por dia, ou quatro copos de 250 ml. Outra pessoa com a mesma idade e 80 quilos de peso teria que ingerir dois copos a mais, atingindo os 2,8 litros diários recomendados para ela.

Entretanto, tenha cuidado. Como já foi dito, a necessidade de hidratação está relacionada a vários fatores e, inclusive, pode ter vínculo com algum quadro de saúde que a pessoa apresente e, eventualmente, com o uso de medicamentos. Além disso, excesso de água também é prejudicial à saúde.

Na dúvida, converse com o seu médico ou nutricionista.