Cultura

Viva Tutti Maravilha: 50 anos de carreira

Em 2013, quando foi entrevistado pela jornalista Ana Clara Maciel para o Comunidade Ativa, Tutti Maravilha morava no Anchieta ha via quatros anos. Na época, o radialista e produtor cultural disse que achava bom demais o ar interiorano que existia no bairro. Passados dez anos, ele continua gostando de viver por aqui, mas recorda com carinho daquele tempo mais tranquilo. Nessa matéria, ele também fala sobre os ambientes da música e do rádio, que formam o seu habitat natural.

Mudanças no bairro

Apesar das transformações, Tutti Maravilha ainda mantém uma relação prazerosa com o Anchieta, onde, pra ele, é possível encontrar gente querida pelas ruas e jogar conversa fora (a entrevista para essa matéria, a propósito, foi programada em uma dessas conversas, que aconteceu na fila do supermercado). “Ainda dá pra fazer minha caminhada, no meu ritmo e sem pressa. Mas, claro que tudo cresceu, o ritmo ficou mais tenso. Mega prédios surgiram da noite pro dia, tirando o sol e a sombra e também diminuindo o silêncio. Pra que prédios tão altos? Eu gostava quando o bairro tinha mais casas, com seus jardins cheirando dama-da-noite”, ele lembra e vibra  com um sonoro “Viva o Anchieta!”.

Mudanças na música

Mas, não foi só o Anchieta que mudou. Do alto dos 50 anos de carreira, que completa em 2023, com 36 deles à frente do programa Bazar Maravilha, da Rádio Inconfidência, Tutti também acompanhou o processo de transformação ocorrido no ambiente da música, que domina como poucas pessoas. Diferente dos tempos passados, atualmente, ele percebe artistas surgindo de forma facilitada pelas plataformas digitais. “Hoje, às vezes, o artista nunca apareceu na tela da TV ou nas ondas do rádio e tem público enorme via internet. O triste é que a qualidade diminuiu um pouco. Ficou mais fácil aparecer. Agora, se a carreira desse artista vai durar, ninguém sabe”, considera.

Por sua vez, durante a trajetória que percorreu, Tutti conviveu e continua convivendo diretamente com o que há de melhor na música brasileira. Ele comemora o fato de ser contemporâneo de gente que passou da casa dos 70 e que estabeleceu carreira sólida e pra lá de duradoura, com boa parcela ainda em plena atividade e fazendo sucesso.

Nessa turma está o imenso rol de artistas gabaritados que, a partir dos anos 1970, Tutti trouxe para Belo Horizonte. “Estou com 73 e corpinho de 38 (risos). Olha o destino misturado com sorte. Em 1973, eu trazia para a minha BH o primeiro show de Marcos Valle. Foi um sucesso. Logo depois, veio Bethânia e foi dada a largada. Era um show por semana”, recorda.

Marcos Valle é um dos artistas longevos — ele completou 80 anos em setembro — que fazem sucesso há muito tempo e que continuam gravando e fazendo shows. Foi ele quem inaugurou o acesso criado por Tutti para que tanta gente boa viesse se apresentar em BH. “Eu trouxe pra cidade shows e espetáculos maravilhosos de Elis Regina, Rita Lee, Gal, Vinicius, Clara Nunes, João Bosco, Tadeu Franco, Gil, Ney Matogrosso, Caetano, Fernanda Montenegro, Marília Pêra, Asdrúbal Trouxe o Trombone, Hermeto Paschoal, Baden, Milton, Beto Guedes, Chico Buarque, Raul Seixas, Macalé, Cartola, Clementina de Jesus, Fafá de Belém, Simone, Toquinho, Novos Baianos, Mautner, Wanderléa, O Terço, Mutantes, Quarteto em Cy, Carlos Lyra, Edu Lobo e Wagner Tiso. Ufa! Foi o que lembrei agora. Viva a cultura brasileira”, torna a vibrar.

Rádio, Rita e Elis

Com quase quatro décadas de radialismo, a despeito das plataformas digitais, Tutti é um entusiasta do rádio. “As plataformas são novas ferramentas onde você procura o que quer ouvir. No rádio a surpresa é constante e fascinante. Você está dentro do carro e, de repente, entra aquela música que marcou sua vida ou que pode mudar o seu dia para melhor”, ele diz.

Por isso, Tutti prevê vida longa para o rádio. “Eu já vi e fui a vários velórios do rádio. Mas, não tem jeito. Ele levanta, sacode a poeira e joga seu som pelos ares de novo. O papel do rádio é e será sempre o mesmo: aquele de entreter, informar, divulgar o artista da terra e dar espaço para o que existe de melhor na cultura de um país”, considera.

Pois é justamente esse espaço que, de segunda a sexta-feira, de 14h às 16h, Tutti abre para a música brasileira na Inconfidência com o Bazar Maravilha. Lá, esse morador do Anchieta, que foi chapa de Rita Lee — como a própria rainha do rock revela em sua autobiografia — e amigo de Elis Regina — quem, diariamente, ele homenageia no programa — dá destaque para gente nova de alto nível e celebra os velhos ícones, que continuam atuais.

“Viva o rádio!”, ele vibra novamente. Viva Tutti Maravilha, vibramos nós.