Pelo bairro

Seu Zé Marques e a sua longa história com o Anchieta – por Elen Marques

Ele chegou ao Anchieta na década de 1960, época em que na rua Odilon Braga a água corria a céu aberto. Veio do interior de Minas, do Triângulo Mineiro, para tentar a vida na Capital.

José Marques nasceu em São Gerônimo dos Poções e cresceu na região de São Gotardo. Seus pais contavam que ele chegou dia 7 de dezembro de 1935, embora os documentos registrassem a data no dia 9 – motivo pelo qual dizia que fazia dois aniversários.

Com sete irmãos, era conhecido lá como “Zé do Eduardo”, seu pai. Ajudava na roça desde cedo, contava que era especialmente bom na tarefa de amansar cavalo bravo. Aprendeu a dirigir sozinho, em um Jipe, e tinha orgulho dos elogios que recebeu do avaliador ao fazer o exame de habilitação, que pediu pra ele repetir a baliza para ter certeza de que aquela demonstração perfeita não tinha sido sorte.

Em 1957, se casou e se tornou o “Zé da Santinha”. Em 1965, vieram para Belo Horizonte com os filhos pequenos. Sem luxo, viviam num barracão ao lado de um córrego onde hoje é a rua Odilon Braga, local onde depois construiu, ele mesmo, um prédio para a família.

“Zé Marques” logo se fez referência no bairro, com seu armazém que vendia de tudo e mais um pouco para uma clientela fiel, adepta da caderneta. Pouco depois, na Igreja de São Mateus, onde esteve à frente de sua construção, foi fiel escudeiro do saudoso padre Expedito, atuou em ministérios e pastorais e, junto da Santinha, fundou a Pastoral da Terceira Idade. Mais tarde, esteve à frente da Associação de Bairro, a Amoran, onde permaneceu como presidente por 12 anos.

Na primeira sede da Associação, na rua Montes Claros, teve a ideia de celebrar um convênio de policiamento comunitário com a Polícia Militar, inédito em BH – sendo replicado por muitas outras associações depois. Batalhou para a conquista do imóvel atual, na rua Itapema, onde foi possível instalar uma estrutura melhor para o Policiamento Comunitário. Por essa atuação em defesa da segurança da região, recebeu várias homenagens e comendas da PMMG, das quais se orgulhava muito.

No Anchieta viu sua família crescer, os filhos se casarem e as cinco netas chegarem. Foi fiel companheiro de sua Santinha por 56 anos e sofreu muito com sua doença e morte, em 2013. Viveu por mais dez anos, fazendo honra a sua memória, certo de que um dia iria reencontrá-la.

Este dia chegou em 12 de novembro de 2023, aos quase 88 anos, tendo vivido cada um de seus dias intensamente, colecionado vários “causos” e deixado boas memórias. No finalzinho, ainda pôde aproveitar os prazeres de ser bisavô.

A jornalista Elen Marques é filha de José Marques