Cidadania

Muito além dos 5 centavos

por Diorela Kelles

Outro dia passei por um restaurante para comprar um lanche, onde não fui bem recebida. Peguei o que queria, paguei com o dinheiro certinho e segui. Em outra oportunidade, voltando lá, aproveitei para almoçar. Uma pena, porque meu almoço deu R$15,73 no quilo. Paguei com uma nota de R$20 e recebi R$3,20 de troco. Ora, aquilo não estava certo e o erro ia muito além de um número. Comentei com a funcionária — a mesma de antes — sobre o erro. Então, ela me deu 5 centavos — veja bem, ainda faltavam 2 centavos e aquilo já não era mais sobre o dinheiro. Peguei os 5 centavos e saí do restaurante. Parei e voltei. Chegando lá, com cordialidade, falei com a moça sobre como não fazia sentido aquele tipo de tratamento para o cliente.

Lembrei-me de outra vez, no supermercado, em que paguei em dinheiro e, novamente, fui penalizada por isso, recebendo um troco menor e aquilo me levou a pensar que o erro tem que ser apontado muito mais por uma questão de convivência correta do que pelo valor do dinheiro. Também há de se considerar que o estabelecimento que embolsa esses diversos centavos talvez acabe acumulando muito mais dinheiro do aquele que declara em seu imposto de renda e isso sim, conta muito.

Mas, e se for o funcionário? Entendo ser uma situação menos grave no sentido financeiro, mas ainda problemática no sentido do tratamento ao cliente. Naquele dia, no supermercado, tive que pedir meu troco correto e ainda recebi a hostilidade de duas funcionárias.

Ora, o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil são bem claros quanto à interdição do enriquecimento sem causa das pessoas. Englobar o valor do troco na hora do pagamento é uma forma de auto-favorecimento ilegal. Mas, será que alguém levaria tão a sério os 5 centavos ou essa importância só existe para quem estuda Direito?

O interessante é que a gente sente que deve se desculpar por estar em busca dos próprios direitos, mas a questão não é apenas essa dos centavos, embora também possa ser. É, principalmente, a da postura. Se o comerciante está num dia difícil, com troco reduzido, penso que todo mundo pode entender, se isso for conversado. O constrangimento está em ser tratado como sonso, ao receber um troco menor, e sequer se sentir à vontade para questionar.

Aproveitei para perguntar em outros comércios: “o que você faz quando falta um ou poucos centavos para o troco?”.  Em uma padaria, escutei de mais de uma funcionária: “a gente aumenta o troco para o cliente para ele não ser prejudicado”. Em um sacolão recebi a mesma resposta, que foi repetida em um armazém, onde o dono ainda disse que “no caso de falta de troco, quem é privilegiado é o cliente”.
Ou seja, em nossa região ainda há estabelecimentos confortáveis para o consumidor! Que bom!