Saúde & Qualidade de Vida

Entendendo melhor o autista – com vídeo

Um sujeito sensível, mas com dificuldade de expressar sentimentos. Um médico incrivelmente sagaz nos diagnósticos, mas atrapalhado nas relações pessoais e profissionais. Assim é Shaun Murphy, interprestado pelo britânico Freddie Highmore em The Good Doctor, que, em 2019, atingiu a marca global de 50 milhões de espectadores e então se tornou a série mais assistida do mundo, revelando a simpatia que o personagem adquiriu junto ao público.

Se existisse na vida real, Murphy estaria entre os quase 80 milhões de autistas que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima existirem no mundo — em torno de 1% da população do planeta, com 2 milhões vivendo no Brasil — e a genialidade que ele apresenta não seria um exclusividade do bom doutor. Diferente do que o senso comum pode levar a crer, no grupo dos portadores de alguns dos Transtornos do Espectro Autista (TEA), como o autismo em suas variantes é conhecido tecnicamente, não é tão raro encontrar as pessoas que conseguem superar suas limitações e alcançar posições de destaque na sociedade. Por outro lado, há aquelas que não avançam nem mesmo nas atividades mais simples, em função das dificuldades que encontram.

Autistas célebres

Há quem diga que o prodígio da música Wolfgang Amadeus Mozart e o gênio da física Albert Einstein teriam sido autistas. O mesmo se fala o sobre inusitado artista plástico Andy Worhol, sobre o fundador da Microsoft Bill Gates e sobre o craque do futebol Leonel Messi.

No cinema o ator Dan Aykroyd, de Irmãos Caras de Pau e Os Caça Fantasmas, a atriz Daryl Hannah, de Kill Bill e Blade Runner, o multitalentos Woody Allen e os diretores Stanley Kubrick, de 2001 e Laranja Mecânica, e Tim Burton, de Alice e de dezenas de outros campeões de bilheteria, também estão no grupo dos autistas. O mesmo ocorre com as cantoras Courtney Love e Susan Boyle e com a ativista Greta Thunberg, que acredita que o fato de ela ter Síndrome de Asperger, um dos quatro tipos de autismo existentes, é que a faz ser tão dedicada à causa ambiental.

Contudo, nem todo autista consegue atingir níveis de desenvolvimento quanto os alcançados por seus pares mais famosos e existem aqueles que sequer se estabelecem nas relações sociais mais simples.

O que é o autismo

Um transtorno de desenvolvimento que costuma aparecer logo nos primeiros anos de vida, o autismo compromete as habilidades comunicacionais e de interação social da pessoa afetada. Variando em níveis de intensidade — leve, média e grave —, pode ser caracterizado de acordo com quatro tipos.

A Síndrome de Asperger é considerada a forma mais leve entre os tipos de autismo e é mais comum em meninos do que em meninas. Muitas vezes, quem tem o transtorno apresenta inteligência superior à média, o que faz com a síndrome também seja conhecida como “autismo de alto funcionamento”. Os portadores de Asperger costumam ser obsessivos por um objeto ou por um assunto e são capazes de ficarem horas falando sobre eles. Quando não é diagnosticada e abordada na infância, a síndrome pode levar os portadores a desenvolverem quadros de depressão e de ansiedade na fase adulta.

Em um nível intermediário há o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento. Em geral, os indivíduos desta categoria têm comportamentos menos repetitivos e competência linguística inferior aos portadores de Asperger e apresentam dificuldades de interação social.

O Transtorno Autista está em um nível mais grave entre os TEA e afeta as capacidades do indivíduo de forma mais intensa, inclusive nos relacionamentos sociais, na cognição e na expressão linguística. Considerado o tipo clássico do autismo, costuma ser diagnosticado antes dos três anos. Os sinais mais evidentes são os comportamentos repetitivos, como bater ou balançar as mãos, e a dificuldade em fazer pedidos usando a linguagem, que é desenvolvida tardiamente.

No extremo da gravidade está o Transtorno Desintegrativo da Infância, que é o menos comum. Geralmente, as crianças que apresentam esse quadro vivem uma fase normal de desenvolvimento que vai até os dois a quatro anos aproximadamente, a partir de quando passam a perde as habilidades intelectuais, linguísticas e sociais, que não conseguem recuperar.

10 tópicos que ajudam a entender melhor o autista

Fica claro que o autismo se apresenta em formas diferentes e afeta os portadores em graus variados, o que faz com que uns tenham maior capacidade de desenvolver relações sociais, habilidades e conhecimentos do que outros. Conversando sobre o assunto com o escritor Michael Rosen no programa de rádio Word of Mouth, da BBC, a também escritora e empresária britânica Alis Rowe, que é portadora de Asperger, revelou alguns dos desafios que a pessoa autista enfrenta e que poderiam ser amenizados se fossem melhor compreendidos pela sociedade. Confira em 10 tópicos um resumo do que ela disse.

  1. Cada pessoa autista é diferente, mas pode compartilhar desafios semelhantes na forma de ver, ouvir, sentir e interagir com o mundo
    A dificuldade de conversar e de interpretar sinais pode causar ansiedade. Como ocorre com as pessoas e geral, alguns autistas são mais sociáveis do que outros e muitos têm dificuldade de conviver com ambientes mais movimentados. Há aqueles com maior dificuldade de se expressarem em palavras, que preferem se comunicar por gestos ou símbolos. Portanto, mesmo diante de desafios semelhantes, de acordo com a própria condição, os autistas podem enfrenta-los de maneiras diferentes.
  2. O autista pode achar difícil escutar uma conversa na presença de outros sons
    As pessoas que estão fora do espectro autista, chamadas neurotípicas, conseguem se concentrar no que as outras dizem, mesmo estando em meio a vários outros sons. Isso ocorre porque elas conseguem filtrar os barulhos que não interessam. Já para o autista, ouvir uma conversa quando existem ruídos paralelos à conversa — como o de música, trânsito e de um local movimentado, por exemplo — pode significar um esforço muito grande.
  3. Insinuações e nuances podem não ser entendidas
    Sutilezas que alguém fora do espectro entenderia com facilidade podem ser incompreensíveis para a pessoa autista. Propensos a interpretarem tudo literalmente, os autistas muitas vezes não conseguem perceber o significado de uma expressão facial, de um tom de voz ou de uma ironia presente em uma conversa. É até possível que desenvolvam essa percepção, mas isso exige algum esforço.
  4. Contextualizar ajuda
    Inserir em uma conversa uma explicação que esclareça algo que esteja oculto nas entrelinhas pode melhorar a comunicação. Por exemplo, se você vir uma arara azul na Praça Sete e disser com surpresa “olha, aquele pássaro” é possível que um autista não entenda o que há de tão especial nisso. Porém, se você disser “que estranho ver uma arara azul na Praça Sete”, é mais provável que ele compreenda que há algum motivo para o fato causar surpresa.
  5. O autista tem dificuldade em saber quando falar
    Como não consegue interpretar com facilidade os sinais de comportamento e da linguagem corporal, autistas podem ter dificuldade para identificar o momento mais adequado para começar, terminar ou entrar em uma conversa. Por isso, há aqueles que permanecem calados quando não deveriam, há os que interrompem uma conversa em momento inoportuno e há ainda os que começam um assunto repentinamente, de forma que para um neurotípico pode parecer fora de contexto. Fazer perguntas diretas e convidar o autista a participar de uma conversa contribui para que ele entenda quando a interação é adequada.
  6. Autistas se expressam de maneira diferenciada
    Como para muitos autistas a fala exige reflexão, eles podem gaguejar, falar lentamente e em tom contínuo de voz, enfatizando detalhes ou aspectos pouco comuns de uma frase. Por esse motivo, pessoas neurotípicas às vezes se desligam da conversa, que consideram tediosa, ou não entendem o que o autista quer dizer. Porém, para viabilizar a comunicação, a atitude deve ser contrária. Ouvir com atenção o que está sendo dito e proporcionar os momentos para a fala é importante para que haja uma boa interação.
  7. A socialização é mais difícil do que parece
    A socialização, que é rotineira para as pessoas neurotípicas, pode ser bastante custosa para um autista. Os de alto funcionamento, que têm cognição acima da média, muitas vezes imitam certas habilidades sociais, o que não significa que estejam à vontade com elas. Sendo assim, sempre que possível, a comunicação escrita, que é muito facilitada por mensagens de texto ou por e-mail, pode tornar a conversa menos estressante.
  8. Os autistas também se expressam melhor por escrito
    Quando escrevem os autistas encontram o tempo que precisam para refletirem sobre um conteúdo, digerirem uma mensagem e prepararem a resposta, fazendo isso sem a pressão do imediatismo que uma conversa implica. Ao mesmo tempo, eles se vêm livres da necessidade de interpretar os sinais linguísticos que a interação social ao vivo implica. Falar ao telefone para as pessoas com algum dos TEA também pode ser difícil, sobretudo se houver qualquer fator de distração, como ruídos de fundo.
  9. Expressões inesperadas de emoções
    Em função de outras questões como as quais estejam lidando no momento, autistas podem expressar emoções de forma inesperada ou reagir diferente do que seria considerado padrão para uma pessoa neurotípica. Alis Rowe conta que quando obteve vaga na universidade, no lugar de expressar felicidade, ficou preocupada com a perspectiva de mudança de rotina, contrariando a expectativa das pessoas à volta. Vivendo as emoções de maneira mais forte do que as pessoas fora do espectro e com dificuldade para encontrar palavras para expressá-las, os autistas podem ser ajudados por perguntas claras sobre o que estão sentindo em uma dada ocasião.
  10. Muitos são repetitivos e há motivos para isso
    A intenção de demonstrar que registrou algo que acabou de ser dito, a ansiedade e a falta de respostas satisfatórias para uma pergunta são motivos que levam o autista a repetir. Para que haja uma boa interação com ele, é importante que as pessoas neurotípicas compreendam esta característica e que não se impacientem com ela.

Portanto, aprender a lidar com estas diferenças de comportamento facilita bastante a vida da pessoa autista e é importante que as pessoas fora do espectro se esforcem nesse sentido. Afinal, sendo genial ou não, o autista também todo o direito de viver em sociedade, de maneira que seja confortável e segura pare ele.

Um canal que vale a pena para quem quer conhecer melhor sobre o autismo

No canal do autista Willian Chimura no YouTube você vai encontrar um tipo de abordagem que podem ajudar bastante na compreensão dos TEA. Como a que segue no vídeo abaixo.

 

Para mais informações sobre os temas abordados nessa matéria, acesse os links disponíveis ao longo do texto. Eles remetem às fontes utilizadas aqui. 

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