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No Outubro Rosa, a veterinária Paula Amorim fala sobre o câncer de mama em cadelas e gatas

A campanha Outubro Rosa já consagrou o mês como sendo o de alerta para a necessidade de prevenção ao câncer de mama entre humanos, mas nada impede que esta atenção também seja estendida aos pets. Pelo contrário, cria a oportunidade para que a atenção dos tutores também seja despertada para uma doença que não é rara entre cães e gatos.

Para saber mais sobre o assunto, o Comunidade Ativa conversou com a médica veterinária Paula Amorim, do Centro Saúde Animal. Confira a entrevista!

Comunidade Ativa: Quando surge algum tumor na mama da cachorrinha ou da gatinha, em grande parte das vezes os tutores logo associam ao câncer. De fato, todo tumor revela um câncer?

 

Paula Amorim: Os tumores mamários são muito comuns em cães e gatos. Há uma gama enorme de tipos histológicos (tipos de câncer de mama) que acometem os cães. Porém, na maioria dos casos são tumores benignos. Já nos gatos a maior parte dos tumores é maligna e altamente agressiva. Nos cães, cerca de 50% dos tumores mamários são malignos e desses, ao redor de 90% são carcinomas (tumor maligno). Nos gatos, prevalece também o carcinoma, mas em uma taxa muito superior, acima de 80%.

Comunidade Ativa: Em uma roda de conversa entre os tutores dos pets, é muito comum ouvirmos sobre a relação que há entre a castração do animal e a prevenção do câncer de mama. Essa informação procede?

Paula Amorim: O tumor de mama é o segundo mais comum em cães e o mais comum em cadelas. Acomete, no geral, animais mais velhos, com cerca de 10 anos de idade, de preferência em animais que possuem o aparelho reprodutivo inteiro e animais que foram castrados após numerosos cios. Não há uma preferência por raça, todas estão sujeitas a esta neoplasia. Existem estudos que comprovam que quando o animal é castrado antes do primeiro cio, no caso das cadelas, reduz em 100% as chances de tumor de mama. Em gatas a castração reduz as chances entre 40% a 60%. Porém, no meio veterinário existe uma discussão sobre não castrar antes do primeiro cio, por causa do amadurecimento endócrino. Ou seja, existem linhas que são a favor de deixar o animal ter o primeiro cio antes da castração, para que haja uma amadurecimento completo da parte endócrina.

Comunidade Ativa: O que favorece o surgimento dos tumores?

Paula Amorim: Esta neoplasia está relacionada com a produção de hormônios femininos, como o estrógeno e a progesterona. Em cadelas, o risco para o desenvolvimento do tumor mamário está relacionado com o número de ciclos estrais da cadela (cios), aumentando consideravelmente a cada ciclo estral. Já em gatas, esse risco aumenta em até sete vezes em fêmeas inteiras comparadas com fêmeas castradas na puberdade. A administração de alguns progestágenos pode aumentar o risco de desenvolvimento de tumores mamários benignos em cães, enquanto que em gatos o uso destes hormônios pode aumentar o desenvolvimento de tumores tanto benignos quanto malignos. Assim como nos seres humanos, os tumores de mama possuem receptores de estrógeno e/ou progesterona, sendo que quanto maior o número destes receptores, menos maligno ele é.

Comunidade Ativa: Existe risco de o câncer de mama gerar metástase, ou seja, se afetar outros pontos do organismo do animal?

Paula Amorim: Os tumores benignos não sofrem metástase, mas há a tendência de cadelas desenvolverem tumores múltiplos. Entretanto, os tumores malignos podem se comportar de maneira benigna ou muito maligna, sofrendo metástase rapidamente para linfonodos locais e pulmões.

Comunidade Ativa: Quais sintomas devem chamar a atenção do tutor?

Paula Amorim: Estas neoplasias podem ser múltiplas ou única, sendo palpáveis como nódulos ou massas dentro das glândulas mamárias. Alguns carcinomas inflamatórios agressivos podem apresentar aumento mamário difuso, edema e ulceração. É raro em cães e comum em gatos a dificuldade de respirar devido à metástase pulmonar.

Comunidade Ativa: Antes de surgirem os sinais mais evidentes, como o tutor pode agir para descobrir se o pet tem algum tumor?

Patrícia Amorim: Realizar a palpação é muito importante para descobrir um possível tumor ainda no início e evitar um desenvolvimento muito avançado. Porém, nem toda gata ou cadela vai deixar ser tocada tranquilamente. Por isso, o tutor, pode escolher um momento de carinho e calmaria. Nos momentos de afagos na barriga, ele pode aproveitar para sentir entre as mamas e nelas mesmas – sendo cinco pares nas cadelas e quatro nos felinos. Mas, faça isso cuidadosamente, sem força ou apertões. Se notar alguma protuberância, bolinha e partes do corpo mais duras, procure um veterinário o mais rápido que puder. Quanto mais cedo o diagnóstico é dado, maiores são as chances de se recuperar e ficar totalmente curado.

Comunidade Ativa: Como é feito o diagnóstico?

Paula Amorim: Através do exame clínico e palpação. Mas, deve ser feita a confirmação com o auxílio de algumas técnicas de diagnóstico, como exames de sangue, Raio-X, aspiração com agulha fina e biópsia do tumor.

Comunidade Ativa: E o tratamento?

Paula Amorim: Na maior parte dos casos, o tratamento para o tumor mamário é a retirada dele cirurgicamente. No caso dos cães, as primeiras três glândulas drenam cranialmente e as glândulas quatro e cinco drenam caudalmente, embora possa haver comunicação linfática entre as glândulas adjacentes. Portanto, é necessário que seja feita a remoção das glândulas adjacentes para a maior parte dos tumores e uma remoção mais abrangente para tumores em ramificações glandulares. Nos gatos a comunicação entre as glândulas não é tão clara, entretanto, o tratamento radical é recomendado. Existem também outras técnicas de tratamento, como a radioterapia, que mostrou ser pouco efetiva, assim como a quimioterapia.

Comunidade Ativa: Para finalizar, o que o tutor não deve fazer e o que deve fazer para evitar a ocorrência dos tumores?

Paula Amorim: Não é indicado o uso de anticoncepcionais em animais e a castração precoce é recomendada como forma de evitar ou diminuir as chances de ter o tumor.