Cultura

As origens das tradições da Sexta-feira da Paixão

Para muitos, é apenas um feriado que antecede a Páscoa. Porém, para os fiéis que conservam os cultos da Igreja da Católica, a Sexta-feira da Paixão, ou Sexta-feira Santa, é um dos momentos mais importantes da fé cristã.
Afinal, diz a tradição, que foi em um a sexta-feira que Jesus foi crucificado e morto na cruz.

Mas, quais seriam as origens históricas dessa data?

A partir do século 4

De fato, não há evidências históricas de que a morte de Jesus tenha ocorrido em uma sexta-feira. Apenas, diz-se que ele ressuscitou na Páscoa e que foi crucificado três dias antes. Ora, como até o século 4 a Páscoa Cristã era celebrada em conformidade com o Calendário Judaico, que é regido pela Lua, nem sempre a Páscoa ocorria em um domingo do Calendário Gregoriano. Por consequência, o dia da Paixão de Cristo também não seria, necessariamente, em uma sexta-feira.

As procissões fazem parte das tradições mais antigas da Igreja e são repetidas no mundo todo. Inclusive na Paróquia de São Mateus (Foto de arquivo do Comunidade Ativa – abril de 2012)

Somente em 325, acatando a uma determinação do imperador Constantino Magno, a Igreja fixou a Páscoa no primeiro domingo após a lua do equinócio de primavera do hemisfério norte — que no hemisfério sul é o equinócio de outono. Vale dizer que é essa mesma lua que marca o início da Páscoa Judaica.

Foi então que também ficou definida a sexta-feira anterior como sendo a de crucificação e morte de Jesus.

As procissões

As procissões são manifestações religiosas antigas, presentes em muitas religiões, e elas têm uma conotação especial em vários tipos de manifestações, inclusive no acompanhamento de dos cortejos fúnebres. Assim, elas foram adaptadas ao cristianismo também para marcarem os momentos finais de Jesus.

O primeiro registro histórico que de uma procissão católica associada aos rituais da Semana Santa viria da descrição de uma mulher chamada Egéria que, no final do século 4, esteve em peregrinação por Jerusalém. Os acontecimentos relatados por Egéria foram associados pelos historiadores à procissão do Domingo de Ramos.

Ao se aproximar a hora undécima, é lida a passagem do Evangelho, onde as crianças, carregando ramos e palmas, encontraram o Senhor, dizendo “Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor”, e o bispo imediatamente se levanta, e todo o povo com ele, e todos vão a pé desde o topo do Monte das Oliveiras, todo o povo vai adiante dele com hinos e antífonas , respondendo uns aos outros: “Bendito o que vem em Nome do Senhor”. E todas as crianças da vizinhança, mesmo aquelas que são muito pequenas para andar, são carregadas pelos pais nos ombros, todas com ramos, algumas de palmeiras e outras de azeitonas, e assim o bispo é escoltado da mesma maneira como o Senhor era antigamente, contou Egéria sobre o ritual que testemunhou na Terra Santa.

A Via-Sacra

A Via-Sacra, que é percorrida pela procissão na tarde da Sexta-feira da Paixão, lembra os passos de Jesus em seu caminho ao Calvário. A prática teria origem no século 15, quando a caminhada pela Via Dolorosa foi definida como o caminho em Jerusalém que se acredita ter sido percorrido por Jesus entre sua condenação por Pôncio Pilatos e sua crucificação, terminando com seu sepultamento.

Como nem todos os cristãos poderiam ir até a Jerusalém para repetir os passos de Jesus na Via Dolorosa real, a comunidade cristã resolveu reproduzir a Via-Sacra dentro das Igrejas. Assim, foram criadas obras de arte que retratam cada um dos 14 momentos marcantes da paixão de Cristo.

A encenação da Paixão de Cristo é um momento de emoção especial entre os católicos (Foto: Arquivo Comunidade Ativa – abril de 2012)

Em tempo de normalidade, quando as pessoas podem circular livremente, na Sexta-feira Santa a procissão percorre nas ruas as mesmas 14 estações da Via Dolorosa de Jerusalém  e que são reproduzidas nas Igrejas.

E quais são as 14 estações?

Retratando os eventos mais importantes da Paixão deCristo, pinturas ou esculturas são fixadas no interior de Igrejas, podendo também ser erguidas em outros locais, como em cemitérios, escolas e hospitais. As 14 imagens que compõem a Via-Sacra, percorrida com especial reverência pela procissão da Sexta-feira da Paixão, procuram reproduzir os episódios a seguir.

  • Jesus é condenado à morte por Pôncio Pilatos.
  • Ele ergue a cruz para carregar pelas ruas de Jerusalém, rumo ao Monte Calvário.
  • Jesus cai da primeira vez.
  • Ele encontra Maria, sua mãe.
  • Buscando aliviar o sofrimento de Jesus, Simão de Cirene carrega a cruz.
  • Verônica enxuga o rosto de Jesus.
  • Ele cai pela segunda vez.
  • As mulheres de Jerusalém choram por Jesus.
  • Ele cai pela terceira vez.
  • Jesus é despido de suas vestes.
  • Ele é pregado na cruz.
  • Jesus morre na cruz.
  • Ele é tirado da cruz.
  • Jesus é colocado no sepulcro.

    A adoração do Senhor Morto é um momento de contrição entre os católicos (Foto: Arquivo Comunidade Ativa – abril de 2012)
Procissão do Enterro

Para encerrar a Paixão de Cristo, à noite, as paróquias fazem a encenação da descida do corpo de Jesus da cruz. Em seguida, é iniciada a Procissão do Enterro, que acompanha um esquife onde jaz a imagem do Senhor Morto.
Este é um momento também especial para as pessoas que buscam penitência e que acompanham o cortejo, que segue até a Igreja.

Na Igreja, a imagem de Jesus morto permanece exposta para a adoração, que ocorre até a hora em que a Igreja é fechada.

No dia seguinte, o sábado, considerando que Jesus está morto, as igrejas não abrem durante o dia. À note, em preparação para a Páscoa, é iniciada a vigília pascal.