Cidadania

05 resultados trágicos provocados pela desinformação ao longo da história

No último dia 30 de março, antecipando o 1º de abril, a Volkswagen fez um chiste com o próprio nome, que acabou sendo interpretado como uma “brincadeira de mau gosto” por parte da imprensa mundial. Próximo ao Dia da Mentira, a fabricante de veículos anunciou que a sua subsidiária responsável pela fabricação de automóveis elétricos nos Estados Unidos passaria a se chamar Voltswagen — trocando o “k” pelo “t” numa alusão à medida elétrica “volt”.

De fato, a ação não teve qualquer consequência grave. Porém, em uma época quando a desinformação vem causando tantos prejuízos à sociedade — a ponto de ser encarada como uma das grandes ameaças à humanidade e ao próprio planeta Terra — a pegadinha da Volks esteve longe de ser bem recebida pelos veículos de comunicação que têm na credibilidade o seu maior capital e que trabalham para combater ações do gênero.

Ora, o tema da desinformação é duro e extremamente desagradável. Contudo, abordá-lo é sempre necessário, sobretudo na atualidade, quando a civilização se encontra tão vulnerável a ele. Por isso, para mais uma vez alertar para a inconveniência da desinformação, o Comunidade Ativa buscou cinco exemplos extremos de quando ela agiu e dos graves desfechos que acarretou.

1. Fake news e linchamento no Guarujá

Para começar, vale lembrar o primeiro caso brasileiro de uma fake news que acabou muito mal. No dia 3 de maio de 2014, no bairro de Morrinhos, no Guarujá (SP), casada e mãe de duas meninas, a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, foi falsamente identificada como uma mulher que estaria raptando crianças para realizar rituais de magia negra na cidade. O boato foi iniciado pela página “Guarujá Alerta”, no Facebook, que publicou um retrato falado de outra mulher, supostamente envolvida com crimes ocorridos no Rio de Janeiro, em 2012, e a foto de uma terceira, que não tinha qualquer envolvimento com o caso.

Fato é que nenhum rapto do gênero havia ocorrido no Guarujá naquela época e Fabiane sequer era parecida com as figuras divulgadas pela página. Mesmo assim, uma pessoa não identificada a acusou de ser uma raptora que não existia, ascendendo um rastilho de violência que atingiu mortalmente a dona de casa.

Religiosa que era, naquele dia Fabiane havia saído de casa para buscar uma Bíblia. Acusada de forma mentirosa, acabou sendo vítima de um linchamento cruel,  que durou duas horas.

Ela chegou a ser resgatada com vida, mas não resistiu aos ferimentos.

2. Assassinatos e suicídios na Guiana

Uma tragédia ainda maior aconteceu e 1978, na Guiana. Misturando valores cristãos com ideais socialistas, nos anos 1960, o pastor americano Jim Jones já havia arrebanhado número considerável de seguidores, que se deixaram convencer por suas encenações de curas milagrosas. Porém, as ações de Jones começaram a provocar desconfianças e, sob a suspeita de fraudes, ele passou a ser investigado pela imprensa.

Para fugir do assédio da mídia americana, o pastor foi procurar outras praças onde pudesse continuar suas atividades. Inclusive, esteve no Brasil, com uma breve passagem por Belo Horizonte. Em 1977, acabou se estabelecendo no assentamento rural Jonestown (Cidade de Jones), criado por ele na Guiana, para onde levou quase mil seguidores.

No ano seguinte, em atenção a denúncias que diziam que cidadãos americanos eram mantidos em Jonestown contra a vontade, o deputado federal Leo Ryan viajou até a Guiana, onde, junto com outras quatro pessoas, acabou sendo assassinado Em meio à comoção criada pelo assassinato de Ryan, Jim Jones conseguiu convencer seus seguidores mais próximos de que todas as denúncias das quais era alvo não passavam de uma perseguição religiosa, que deveria ser respondida de maneira trágica.

Como única saída, os pastor incitou os membros da igreja a se suicidarem. Aqueles que não aceitaram a ideia foram assassinados. Na sequência, os executores colocaram fim às próprias vidas.

Como resultado das mentiras de Jim Jones, 918 pessoas morreram, entre as quais estavam 300 crianças.

3. Holocausto e guerra

As circunstâncias que levaram Adolf Hitler ao poder na Alemanha são várias. Problemas econômicos, sociais e de política internacional, entre outros, acabaram criando o ambiente favorável para que a população alemã o apoiasse, oferecendo as condições para que ele realizasse os planos que vinha anunciando desde os anos 1920. Entretanto, não há dúvidas do importante papel que a desinformação exerceu na ascensão daquele que seria considerado um dos ditadores mais cruéis da história da humanidade.

Em Mein Kampf, publicado em 1925, Hitler já dizia que “Toda propaganda deve ser apresentada em uma forma popular (…), não estar acima das cabeças dos menos intelectuais daqueles a quem é dirigida. (…) A arte da propaganda consiste precisamente em poder despertar a imaginação do público através de um apelo aos seus sentimentos”. Ou seja, para o líder nazista, o que importava não era a verdade. O objetivo da propaganda que ele idealizou era tão somente incitar as emoções populares em benefício de sua causa, mesmo que isso acontecesse às custas da mais pura mentira.

Não foi por acaso que Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Hitler, se tornou um dos personagens mais importantes do projeto hitlerista de poder. Antissemita empedernido, coube a Goebbels exercer papéis fundamentais na escalada do nazismo, que incluíam reputar aos judeus a culpa por grande parte das dificuldades que estavam sendo vividas pela Alemanha.

Mas, os projetos da propaganda de Goebbels tinham vários outros braços. No plano internacional, por exemplo, atrás de um motivo para iniciar uma nova guerra na Europa, Hitler ordenou que fossem realizados ataques contra os próprios postos nas fronteira com a Polônia, que foram amplamente divulgados para os alemães como sendo ataques poloneses. Ao mesmo tempo, junto com uma série de inverdades e de distorções de fatos verdadeiros, a superioridade racial ariana passou a ser propagada de maneira intensiva, se somando à animosidade popular que era inflamada contra minorias. Além dos judeus, ciganos, homossexuais, portadores de deficiências e demais pessoas que destoassem do ideal do homem superior alemão foram atacados, muitas vezes com crueldade.

Estas e inúmeras outras estratégias de desinformação levaram aos trágicos resultados das milhões de mortes e das destruições materiais e morais que ainda hoje ecoam pelo mundo.

4. Invasão do Capitólio

Pelo menos desde de 2016, o povo americano vem sendo bombardeado por uma carga maciça de teorias da conspiração que não medem a dimensão do que é dito. Há um grupo considerável de pessoas que, entre outras fantasias, acredita que o mundo esteja sendo controlado por uma Nova Ordem Mundial que é conduzida por milionários pedófilos e satanistas que, juntos, dominaram o planeta.

Entre os que professam essas teorias vale destaque para os adeptos do QAnon, que, de forma mais ou menos organizada, criaram um movimento em torno do ex-presidente Donald Trump. No entendimento desse grupo Trump seria o único líder capaz de barrar o avanço das forças satânicas sobre a Terra.

Sim, parece algo pra lá do absurdo. Mas foi esse pessoal que conseguiu articular a ação que levou à invasão do Capitólio, a sede do Congresso dos Estados Unidos, criando uma sombra significativa sobre a democracia americana.

5. Desinformação na pandemia

Por fim, chegamos ao momento mais difícil da humanidade desde os eventos da Segunda Guerra. Enquanto a ciência se esforça para criar parâmetros para combater a Covid-19 e suas graves consequências, sistematicamente, um grupo de pessoas age no sentido de conturbar os processos de informação, espalhando mentiras ou distorcendo a verdade.

As confusões são várias e vão desde o ataque às vacinas e às estratégias de governos para dificultar o avanço da pandemia até a divulgação de tratamentos que não são corroborados cientificamente. Recentemente, por exemplo, pretendendo contestar o número de mortes que vem ocorrendo em todo o mundo, houve quem divulgasse imagens de um grupo de pessoas que não estariam mortas e que estavam em sacos de cadáveres. Nas imagens divulgadas, uma das pessoas aparece fumando, o que evidenciaria uma fraude. Porém, rapidamente a imprensa agiu para descontruir mais essa falácia, identificando as cenas corretamente, como sendo de um videoclipe musical russo.

Felizmente, a imprensa vem se mantendo em alerta para estas questões, inclusive na checagem de fatos. Contudo, por mais cuidadosos que sejam, nem mesmo os jornalistas ou os veículos mais sérios estão está livres de serem enganados pelas mentiras. Haja vista o caso da Volks.

Portanto, cabe a cada cidadão se manter em constante alerta para a possibilidade de ser vítima da desinformação. Mais do que isso, e preciso ter atenção para o risco permanente de a pessoa servir como uma ferramenta de propagação da mentira.