Saúde & Qualidade de Vida

O lockdown funciona? Confira o que aconteceu na Inglaterra e em BH

O chamado lockdown, medida que determina o bloqueio de atividades e impede a livre circulação das pessoas, é um remédio extremamente amargo e com sérios efeitos colaterais sobre a economia e também sobre a saúde da população. Então, será que, pelo ponto de vista do combate à pandemia, é compensador adotá-lo?

Em busca de algumas respostas, o Comunidade Ativa observou duas situações. A primeira, mas ampla e que abrange um período mais longo, verifica os fatos ocorridos na Inglaterra ao longo de um ano. A segunda, localizada, busca as informações do último mês sobre a pandemia aqui mesmo, em Belo Horizonte.

Mudança de opinião na Inglaterra

Logo no início da pandemia, com o apoio dos assessores na área médica e científica, o primeiro ministro inglês Boris Johnson apostou na chamada “imunidade de rebanho” como uma saída eficaz para o surto de Covid-19 na Inglaterra. Johnson acreditava que, com o vírus circulando livremente, quando 60% da população inglesa já tivesse sido infectada, haveria uma reação de imunidade coletiva que, naturalmente, bloquearia o avanço da doença.

Entretanto, poucos dias antes de ele mesmo ser diagnosticado com a Covid-19, diante da aceleração do índice de contágios — que, naquela época, estava na casa dos 3 mil novos casos diários — e perante o aumento no número de hospitalizações e de mortes em consequência da doença, no dia 23 de março de 2020, o chefe do governo inglês mudou de opinião e decretou o primeiro lockdown nacional em seu país. A medida levou cerca de um mês para surtir efeito, mas, como mostra o gráfico disponível no site da Universidade John Hopkins que aborda a evolução da pandemia em todo o mundo, no final de abril, o número de contágios diários começou a cair na Inglaterra — foi reduzido a pouco mais de 400 casos em um dia — e atingiu um ponto de relativa estabilidade, que se manteve até meados de agosto.

Continua o sobe e desce

Entendendo que a situação estava controlada, entre junho e julho, as autoridades permitiram que, gradativamente, as atividades econômicas voltassem a alguma normalidade, inclusive com a reabertura de cinemas, de bares e de restaurantes. Lembrando que naquela época a vacinação ainda não havia sido iniciada, infelizmente, o resultado do relaxamento foi o pior possível.

No início de setembro, os índices ingleses da pandemia começaram a se elevar de maneira assustadora — o número de novos casos diários, por exemplo, saiu de 1 mil em agosto para mais de 7 mil em setembro. Os dias foram passando e os contágios continuaram se intensificando, ultrapassando a casa dos 20 mil novos casos diários em outubro, o que levou à decretação do segundo lockdown nacional inglês, em 04 de novembro. Na ocasião, entendo que o vírus na está à mercê das vontades ou das necessidades humanas, Boris Johnson declarou: “Temos que ser humildes diante da natureza”.

Já em dezembro, ainda que de maneira menos significativa do que aconteceu na primeira onda, os índices de transmissão novamente voltaram a cair. Por volta do dia 15, o número de novos contágios diários foi reduzido para cerca de 14 mil, o que ainda era bastante elevado, na comparação com os dados de meses anteriores. Mas já representavam uma conquista.

Com base nessa melhora, mesmo com o quadro ainda não sendo muito animador, a proximidade das festas de final de levou o governo inglês a novamente relaxar as restrições de circulação, o que custou muitas vidas mais aos ingleses.

Bloqueio com reforço da vacina

O último avanço da pandemia sobre a Inglaterra foi catastrófico. Em poucos dias, o novo coronavírus passou a infectar cerca de 60 mil pessoas diariamente no país, provocando uma crise até então inédita. Diante da explosão da doença, no dia 4 de janeiro, o governo decretou o terceiro lockdown nacional e, desta vez, já contando com o reforço das vacinas.

O gráfico da Universidade John Hopkins mostra o sob e desce da pandemia na Inglaterra (Imagem: Reprodução)

O resultado do bloqueio mais uma vez foi sentido, mas de uma forma muito mais consistente do que as anteriores e o número de novos casos despencou. Após o pico de mais de 68 mil novos infectados pela Covid-19 em um único dia registrados em 8 de janeiro, a contaminação foi abaixando dia a dia, até que cerca de 14 mil ingleses contraíram a doença em 8 de fevereiro. Com a vacinação e as restrições mantidas, o número de novos contágios diários continuou caindo: foram pouco mais de 5 mil infectados em 8 de março e exatos 3.124 novos casos no dia 8 de abril.

No último dia 29 de março, as restrições foram novamente relaxadas, havendo agora a expectativa de que os números possam ser verdadeiramente controlados. Afinal, além dos resultados obtidos pelo último período de bloqueio das atividades, houve uma evolução significativa na vacinação do povo inglês.

Em 8 de abril, 46,85% da população britânica já havia sido vacinada com pelo menos uma dose. O Reino Unido é a segunda nação que mais vacinou em termos percentuais, ficando atrás apenas de Israel, que já conta 61,18% da população vacinada. Na mesma data o Brasil estava com 9,12% da população vacinada.

Em declaração à BBC, a pesquisadora Julii Brainard relacionou o bloqueio somado à vacinação com os bons resultados que estão sendo experimentados na Inglaterra nos últimos dias. “Se você comparar os lockdowns que foram implementados — o de março do ano passado com o de janeiro deste ano — vai perceber que, na primeira vez, a queda no número de casos foi bem mais lenta. Agora os números caíram bem mais rapidamente, apesar de as condições serem diferentes. E qual foi a grande diferença entre os dois lockdowns? É que agora temos a vacinação acontecendo, o que acelerou a queda”, disse Julii.

O quadro mais recente em Belo Horizonte

Desde o dia 20 de abril de 2020, de segunda a sexta-feira, a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH) publica um boletim epidemiológico diário que apresenta a situação da pandemia na capital. Entre os vários dados publicados, está um que resume a situação de transmissão da doença que é o chamado “índice RT” ou “número médio de transmissão por infectado”. Em resumo, o índice RT permite entender se a pandemia está acelerando ou desacelerando em meio a uma determinada população.

No último dia 15 de março, o índice RT divulgado pelo Boletim Epidemiológico da PBH era 1,28 — ou seja, cada 100 pessoas contaminadas naquele dia transmitiam o vírus para outras 128 pessoas —, significando uma aceleração do contágio pela Covid-19 na cidade. Dois dias antes, no sábado, 13, novamente passaram a vigorar as medidas mais restritivas de funcionamento do comércio e da circulação de pessoas na capital.

À esquerda, o índice RT no dia 15 de março x a situação em 8 de abril, após 26 dias de bloqueio em BH (Imagem: Reprodução – Fonte: PBH)

Já em 8 de março, 26 dias após serem adotadas as restrições, o índice RT marcava 0,95, mostrando a evidente desaceleração do contágio em BH. O mesmo boletim divulgou que 379.167 belo-horizontinos já haviam recebido pelo menos uma dose da vacina, enquanto 118.494 já haviam completado a imunização com a segunda dose.

Tomando como referência a situação da vacinação inglesa, o quadro ainda é bastante modesto na capital mineira, onde temos 14% dos 2,7 milhões de habitantes vacinados com a primeira dose e 4,35% com segunda dose. Contudo, esses números já denotam algum avanço também por aqui.

Fica a expectativa de que, a exemplo do que já vem acontecendo em outros países, como na Inglaterra, em Belo Horizonte e em todo o Brasil logo se repita o sucesso da combinação “lockdown/vacinação”, permitindo assim que o remédio amargo que a sociedade está sendo obrigada a tomar logo possa ser suspenso definitivamente. Que isso ocorra com a maior brevidade possível.

 

Uma dica

Para mais informações sobre os temas abordados nessa matéria, acesse os links disponíveis ao longo do texto. Eles remetem às fontes utilizadas aqui. 

Uma dica: os artigos fora da página do Comunidade Ativa que não estiverem em português podem ser traduzidos automaticamente pelo navegador pelo seu navegador. Pra isso, basta clicar com o botão direito em qualquer ponto do texto a ser traduzido e escolher a opção “Traduzir para o português”.