Meio Ambiente

No Dia do Meio Ambiente, reflexões em meio à pandemia

Por Carlos Alberto Rocha *

Talvez surja um tempo quando o Dia do Meio Ambiente se torne uma data para comemorações. Contudo, como esta ainda não se anunciou, mais uma vez, a celebração que ocorre a cada 5 de junho, se apresenta como uma oportunidade para destacarmos pontos de reflexão que precisam ser considerados em todos os dias de nossas vidas.

Em 2020, em plena pandemia, é natural, portanto, que nossas atenções se voltem para conexões da covid-19 com os temas ambientais. Portanto, neste post, sem pretender fechar qualquer questão ou apresentar conclusões, apenas apresento alguns temas sobre a relação humana com o nosso planeta e com as demais espécies que vivem sobre ele e que têm relação com a doença que bagunçou nossas vidas. Faço isso acreditando que estes sejam alguns dos muitos pontos que precisam ser considerados com urgência, sobretudo enquanto nos preparamos para criar novas rotinas em nossas vidas.

Mais uma zoonose

Quanto às origens, diferente do que dizem as teorias conspiratórias que afirmam que o vírus foi criado em laboratório, tudo leva a crer que realmente a doença seja uma zoonose — ou seja, uma infecção por patógeno de natureza animal que, em algum momento, contagiou um desavisado ser humano. Sendo assim, como tantos outros males que afetam a humanidade, a covid-19 teria surgido da imprudente relação do ser humano com as demais espécies que compartilham conosco a Terra.

Torna-se então oportuno relacionar o episódio do chinês que teria consumido carne de morcego crua, contaminando-se com o coronavírus, com outro fato ocorrido na África dos anos 1980, quando, de alguma forma, alguém foi contagiado pelo vírus SIV, que é encontrado em chipanzés. No hospedeiro humano o SIV sofreu uma mutação, se transformando no cruel HIV, que tanto sofrimento e morte trouxe para a humanidade.

Com menor gravidade do que a covid e do que a Aids, mas ainda assim muito graves, dengue, chicungunya, zica e leishmaniose são apenas algumas das tantas zoonoses que ameaçam a humanidade e que surgiram entre nós graças às negligências sanitárias e às inteirações arriscadas com outras espécies. Para afastar a maior parte delas, como a dengue, bastaria que cada pessoa assumisse a própria responsabilidade de manutenção do espaço onde vive.

Porém, infelizmente, sabemos que não é isso o que acontece na prática.

Mais próximos

Como têm destacado os especialistas, as inteirações entre humanos e animais silvestres têm sido cada vez mais favorecidas pela destruição do meio natural. Sem o abrigo e sem as fontes de alimento que encontram no próprio habitat, as espécies silvestres são obrigadas a se deslocarem para as cercanias das cidades ou mesmo para o meio urbano, favorecendo assim o surgimento de novas zoonoses e a propagação mais intensiva das já existentes.

É verdade que nem todos os animais silvestres são fontes de zoonoses. Porém, a proximidade com alguns, como ficou provado com o caso das capivaras da Pampulha que se tornaram foco de febre maculosa, pode se tornar algo perigoso para os humanos

O que comemos

Do ponto de vista sanitário, convém observar que há fortes indícios de que a covid-19 tenha como ponto inicial de distribuição do vírus um dos inúmeros mercados de animais vivos existentes na China. A autorização para a criação de tais mercados foi um recurso adotado pelo governo chinês para aumentar a oferta de proteína para a gigantesca população do país, que pôde passar a consumir animais silvestres com maior facilidade.

Ora, extremamente dependente da proteína animal, a humanidade força o planeta para além dos limites da sustentabilidade, o que é necessário para  atender às demandas por alimentos. Com isso, boa parte das cerca de 40 gigatoneladas de gases de efeito estufa que são emitidos anualmente no planeta (considerando dados do Global Carbon Budget) são decorrentes da alimentação humana.

Isso significa que, mesmo sem comer morcego, os nossos hábitos alimentares ajudam a pressionar o meio ambiente de maneira negativa.

Nossos hábitos de consumo

O céu limpo sobre cidades que antes eram caracterizadas pela poluição atmosférica é outro ponto que precisamos considerar com urgência. Afinal, a despoluição do ar é uma consequência direta da desaceleração da economia mundial, que foi provocada pela necessidade do isolamento social.

Com a retomada da economia, logo este efeito colateral tão positivo da pandemia deve ser perder. Contudo, nada impede que ele faça surgir novos conceitos sobre como administramos nossos hábitos de consumo. Certamente, o consumo desmedido tem efeito extremamente negativo sobre Terra e contra ele cada um de nós pode lutar intensamente.

Aliás, parando pra pensar, é possível perceber que a maior parte dos nossos problemas ambientais, o que inclui a covid-19, está relacionado aos hábitos de consumo humano.

* Jornalista especializado em Educação Ambiental, Carlos Alberto é editor do jornal Comunidade Ativa e presidente da Amoran