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EA Alimentar, pra acabar com o tédio do seu cão

Se você é tutor de um cão e ainda não ouviu falar em Enriquecimento Ambiental Alimentar (EA Alimentar), esta é uma boa oportunidade para conhecer um pouco sobre o assunto e descobrir técnicas que tornarão a vida do seu pet bem mais agradável. O Comunidade Ativa conversou com a consultora de comportamento animal Letícia Orlandi, que, além de deixar tudo muito claro, ainda nos passou algumas dicas sobre maneiras simples, baratas e de fácil execução, que tornarão esse universo de bem-estar e de estímulos saudáveis bem mais próximos do seu peludo.

Mas, o que é Enriquecimento Ambiental?

Quando alguém se refere ao Enriquecimento Ambiental (EA), de modo geral, está tratando de recursos que tornarão mais agradável, divertido, atrativo e desafiador o ambiente onde o pet vive. Segundo Letícia Orlandi, a EA, portanto, diz respeito às atividades, estruturas, objetos, texturas, odores e a outros elementos que permitirão ao animal expressar comportamentos naturais, como farejar, forragear, cavar, destrinchar e carregar alimentos.

Assim, ao interagir de forma mais lúdica e positiva com o espaço em que permanece no cotidiano, o pet executa atividades que, para ele são agradáveis, o que aguça os sentidos e ajuda a espantar o tédio e a desenvolver confiança e independência. Além de tornar a vida do bichinho mais feliz, estas são condições bastante úteis, que podem deixa-lo mais tranquilo, inclusive naqueles períodos em que ele precisa passar algum tempo sozinho.

O EA Alimentar e as maneiras de aplicá-lo

De acordo com Letícia, o EA Alimentar nada mais é do que o EA aplicado aos horários em que o pet se alimenta. “Vale destacar que o EA vai muito além da dimensão alimentar, incluindo estímulos cognitivos, sensoriais, físicos e sociais. Muitas vezes, uma atividade pode combinar todas as dimensões. A hora da refeição pode ser, portanto, uma oportunidade de promover o equilíbrio físico e emocional e, por durar mais tempo, beneficia também a digestão”, diz a consultora.

Ao planejar as atividades, Letícia aconselha começar por aquelas de nível mais fácil, oferecendo-a em pelo menos uma das refeições diárias. “Aos poucos, é possível ir abandonando a vasilha que o animal normalmente usa para comer. Caso ele fique receoso, recompense a simples aproximação do brinquedo ou do objeto proposto. Supervisione, observe sinais de frustração e dê uma ajudinha, se necessário, especialmente nas primeiras apresentações de um estímulo. Observe o estado emocional do cachorro durante e depois da atividade, para que você possa dosar e selecionar melhor os estímulos que realmente beneficiam seu bichinho”, recomenda.

Letícia considera importante permitir que as descobertas e as explorações aconteçam de maneira espontânea, sem pressão, e faz um alerta. “Se o EA for adotado como parte de uma estratégia de modificação comportamental — por exemplo, se o seu cãozinho apresentar comportamentos relacionados a medo, insegurança, ansiedade — deve ser ofertado sempre com orientação profissional. O EA é um recurso maravilhoso, cujos benefícios contam com o respaldo de trabalhos científicos relevantes, mas não deve ser oferecido de forma aleatória ou sem o mínimo de conhecimento sobre a espécie e as particularidades do indivíduo que vai usufruir da atividade”, ressalta.

Ideias simples

Letícia Orlandi vive recebendo mensagens de tutores interessados em tornar a vida de seus cães mais ricas. Porém, com o início da pandemia, que fez com muitas pessoas adotassem o primeiro cão, enquanto outras se tornaram mais próximas daqueles que já cuidavam, as consultas se tornaram ainda mais frequentes.

Para facilitar as respostas, a consultora selecionou 10 sugestões que considera de fácil aplicação e que podem gerar bons resultados. “Não são exatamente novidades, mas são propostas sob medida principalmente para tutores de primeira viagem e para aqueles que já tinham experiência anterior com o cão da família e que, agora, são os únicos responsáveis pelas necessidades do doguinho. Porém, mesmo pra quem já é fera no EA, as seleção que fiz facilita o compartilhamento das ideias, o que pode ajudar a outras pessoas”, considera.

Para melhorar o entendimento das técnicas, Letícia selecionou vídeos ilustrativos de cada uma delas. “As propostas utilizam, em sua maioria, ração seca, mas várias podem ser adaptadas para outros tipos de dieta”, ela explica.

10 sugestões de EA Alimentar, por Letícia Orlandi

1. A mais simples: garrafa pet 
Retire o rótulo de uma garrafa plástica limpa e coloque os grãos de ração dentro. A forma mais segura é apenas tirar a tampa e deixar que o cão movimente a garrafa para que os grãos saiam. Você pode também esquentar a ponta de uma faca e fazer buracos no corpo da garrafa. Supervisione para evitar a ingestão de plástico e recolha a garrafa imediatamente após a refeição. O mesmo material pode ser usado para propostas um pouco mais elaboradas, como móbiles e brinquedos estilo “pébolim”. Além disso, existem dispensers de ração que utilizam este mesmo princípio, só que com menos barulho e mais segurança.
O que envolve? Farejar, brincar, estímulos motores, mentais e auditivos enquanto o cão descobre como fazer o alimento sair de dentro da garrafa.

 

2. Pacotinho de farejar
Abra uma toalha ou cobertinha e coloque os pedaços do alimento, bem espalhados pela superfície. Dobre ou enrole o tecido e ofereça ao cão. Muito fácil, né? Com o tempo, você pode fazer “dobraduras” diferentes no tecido, para tornar a busca mais desafiante. Esta e outras ideias você encontra no perfil Lorisdog, no Intagram. Aproveite para conhecer a plataforma Brinquedo bom para cachorro”, que tem mais de 80 ideias de EA (não só alimentar) e conteúdos teórico-práticos sobre o tema.
O que envolve? Farejar, cavar e solução de problemas

Veja direto no instagram.com/lorisdog.

 

3. Baú do tesouro
Pegue uma caixa e coloque vários objetos: brinquedos, bolinhas, papéis e tudo o mais que for seguro para que seu doguinho saia fuçando. Jogue os grãos de ração no meio dos objetos e deixe o focinho do cachorro funcionar.
O que envolve? Farejar, forragear, cavar, despedaçar, sentir texturas diferentes e brincar.

4. Rolo de papel
Dobre uma ponta de um rolo de papel toalha e coloque os grãos de ração dentro. Você pode oferecer assim ou dobrar a outra ponta e deixar que o cão despedace o rolo para alcançar o alimento, supervisionando para evitar ingestão do papelão.
O que envolve? Despedaçar, rasgar, farejar e carregar o alimento.

 

5. Recheio congelado (ou não)
Este também é um clássico. Coloque o alimento seco ou úmido dentro de um brinquedo recheável, adicione um pouco de água ou líquido (caldo natural de carne, por exemplo) que faça parte da dieta do cão e leve ao congelador. Esses brinquedos são considerados seguros para oferecer quando ele vai ficar sozinho, desde que as primeiras interações sejam supervisionadas. Cuide para que o orifício menor não fique obstruído. No vídeo, a Carla Ruas ensina como fazer vários recheios.
Os brinquedos recheáveis podem ser oferecidos apenas com alimento seco também, com grau de dificuldade bem mais baixo.
O que envolve? Lamber, cheirar, roer, sentir texturas diferentes e carregar o alimento.

 

6. Rastreamento
Peça ao cão para “sentar” e “ficar”, se ele já tiver sido treinado. Se não, deixe-o restrito a um cômodo por um breve momento. Espalhe a refeição pela casa. No início, você pode fazer em apenas um quarto. Depois, podemos ampliar o grau de dificuldade, aumentando a área de busca e escondendo os grãos sob almofadas e tapetes. Libere o cachorro e diga algo como “procurar”. Pode ser feito também em ambiente externo controlado (quintal com grama, por exemplo) e com comida úmida em vários potinhos.
É uma boa opção para o animal que vai ficar algumas horas sozinho, desde que tenha sido supervisionado nas primeiras vezes e seja motivado pelo estímulo, de forma que não fique sem comer. No vídeo abaixo, o Renato Zanetti mostra a atividade na prática.
O que envolve? Forragear, farejar e estímulos motores.

 

7. Caixa com rolos
Encha uma caixa com rolos de papel de diferentes tamanhos. Coloque os grãos no fundo dos tubos e deixe que o cachorro trabalhe para retirá-los.
O que envolve? Despedaçar, cavar, farejar, catar, resolução de problemas.

 

8. Gelinhos saborosos
Coloque o alimento seco ou úmido em formas de gelo ou copinhos plásticos. Acrescente água ou outro líquido que faça parte da dieta e congele. Antes de oferecer, desenforme e espere descongelar um pouquinho, para evitar que grude na língua. Se o animal for ficar sozinho, ofereça em ambiente seguro e fácil de limpar. No vídeo, a Luiza Cervenka mostra algumas receitas.
O que envolve? Texturas diferentes e efeito relaxante por meio da lambedura.

 

9. Tabuleiro reciclado
Com objetos reaproveitados, você pode montar um tabuleiro interativo em casa. É importante começar no nível fácil e evoluir de acordo com a desenvoltura do cão. Isso vale também para os tabuleiros comprados prontos. Os desafios podem ser abrir tampas, puxar cordinhas para abrir gavetas ou enfiar o focinho entre cordinhas para alcançar o alimento. Alguns modelos podem ser usados com comida úmida. No perfil da Lu Vilela (instagram.com/euvoceeoscachorros), você aprende a fazer este modelo da foto. E no perfil instagram.com/jogos_da_lu_, você pode comprar tabuleiros incríveis e ajudar animais abandonados.
O que envolve? Farejar, forragear, brincar, solução de problemas, estímulo motor.

Veja direto noinstagram.com/euvoceeoscachorros

10. Tapetes de fuçar e de lamber feito com saco de ração
Apenas com tesoura, régua e embalagens de ração (acredite, mais nada), dá para fazer esses tapetes, que podem ser usados com comida seca ou úmida, já que são laváveis. Você pode fazer com a “grama” mais grossa ou mais fina. Como? É só ir até o perfil instagram.com/aprendiz_de_melhor_amigo.
O que envolve? Farejar, forragear, brincar, lamber, sentir texturas diferentes e estímulos motores.