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Carne impressa, de cannabis, de insetos ou cultivada em laboratório? Qual a sua preferência?

Qual a carne mais extravagante você já comeu? Se o seu limite vai a algum molusco, à rã ou um réptil, saiba que novos conceitos de carnes exóticas estão sendo preparados para o futuro e talvez não demore muito para que elas cheguem às prateleiras dos supermercados. Ao mesmo tempo, se você está entre as pessoas que já não comem carne, é possível que algumas das alternativas que estão sendo desenvolvidas também possam ser incluídas no seu cardápio.

De comida preparada em impressora 3D a carne cultivada em laboratório, não são poucas as novidades que estão surgindo. Confira!

Carne impressa

Não é de hoje que a indústria vem buscando alternativas à proteína animal para a nutrição humana. Um dos maiores problemas com os resultados, contudo, está na textura e no sabor. Ainda que as promessas de produtos que se assemelham à carne sejam várias, poucos atendem satisfatoriamente ao paladar, ao olfato e à experiência de consumo.

Mesmo assim, este é um segmento promissor na área da alimentação. De acordo com a companhia israelense Redefine Meat, o mercado global de alternativas de carne é o de crescimento mais rápido da indústria de alimentos e, até 2030, deve chegar a um volume de US$ 140 bilhões anuais em negócios.

Pensando nisso, a empresa está apostando no que ela mesmo define como sendo “uma nova forma de fazer carne”. Utilizando tecnologia que combina modelagem em 3D, impressão de alimentos e formulações feitas a partir de ingredientes naturais e sustentáveis, a Redefine Meat promete entregar carne sem utilizar animais, mantendo a aparência, a textura e o sabor da carne natural.

Além disso, os israelenses afirmam que produto será isento de colesterol, mais acessível e causará impacto ambiental 95% menor do que o provocado pelas carnes provenientes dos animais.

Carne de cannabis

Apostando nas proteínas vegetais, outra empresa israelense, a Roots Sustainable Agricultural Technologies, assinou um acordo com a Hempoint, produtor de cannabis na República Tcheca, para explorar o potencial da planta na alimentação. O objetivo é desenvolver o uso comercial da proteína da cannabis em carnes vegetais.

Utilizando uma tecnologia própria que otimiza o crescimento das plantas, em agosto deste ano, a Roots iniciou a produção de uma carne vegetal a base de ervilha e de feijão e obteve resultados encorajadores, com safras 67% mais eficientes do que as tradicionais. A empresa espera alcançar resultados semelhantes no cultivo da cannabis.

O grupo CzecHemp, do qual a Hempoit é parte, está buscando métodos para elevar os níveis de proteína na semente da cannabis. Sabidamente, a semente da planta é fonte magra de proteína vegetal, com baixíssimo teor de gordura, sem colesterol ou gordura saturada, e contém aminoácidos que ajudam a reparar as células musculares, regular o sistema nervoso e aumentar a função cerebral.

Carne de insetos

Talvez a alternativa alimentar mais controversa, os insetos estão entre os de maior potencial para solucionar a demanda global por proteína. Para o biólogo e cozinheiro de insetos Casé Oliveira, é provável que no futuro a maior parte da população mundial inclua esse tipo de alimento no cardápio.

Presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Insetos (Asbraci), Oliveira afirma que a produção de proteína animal responde hoje por 30% das emissões de gases de efeito estufa e consome mais espaço e mais água do que a produção de outros alimentos, situação que não se repete com os insetos. Por isso, ele defende a produção e o consumo dos insetos alimentícios como sendo de “alto valor biológico, de baixo impacto ambiental e nutritivos”.

Presente nos hábitos alimentares de países africanos, os insetos são recomendados como fontes de nutrientes pela própria Organização Mundial das Nações Unidas (ONU). Segundo a instituição, os mais populares são os besouros, em primeiro lugar com 31%, seguidos das lagartas, 18%, das abelhas, vespas e formigas, 14%, e dos grilos e gafanhotos, com 13%. As demais posições  são preenchidas pelas cigarras, pelos cupins e pelas libélulas.

Contudo, diferente do que ocorre na África, onde os insetos são consumidos em sua forma original, com a dificuldade em popularizar esse tipo de alimentação na Europa e nos países americanos, a tendência é que organismos sejam transformados em ingredientes para a produção de alternativas à carne convencional. Portanto, ainda que pareça brincadeira, realmente é possível que em um futuro não muito distante seja possível encontrar hambúrgueres e almôndegas de grilo regadas ao molho de besouro.

Carne de laboratório

Em 2013, o professor Mark Post, da Universidade de Maastricht, na Holanda, mostrou ao público o seu hambúrguer de US$ 250 mil, que foi preparado e degustado em uma apresentação ao vivo, realizada em Londres. O valor astronômico do hambúrguer se deve ao fato de ele ter sido resultado de uma extensa pesquisa desenvolvida por Post, que conseguiu produzir carne em laboratório, sem a necessidade de abater um animal.

Basicamente, o cientista desenvolveu um método que permite cultivar os fios musculares de um boi em um meio com soro de feto bovino. Ainda que a primeira amostra não tenha alcançado a suculência de um bife de picanha, a qualidade obtida com a carne cultivada satisfez aos que o experimentaram.

No final de novembro deste ano, a agência responsável pela regulação dos alimentos quem são consumidos em Cingapura aprovou os padrões de segurança alimentar de nuggets de frango produzidos pela startup americana Eat Just. Não haveria nada de especial no fato, caso os nugget snão tivessem sido produzidos com carne cultivada em laboratório, em um processo similar ao desenvolvido por Post.

Os resultados obtidos pelas empresas que estão atuando no setor de desenvolvimento de carnes em laboratório têm empolgando investidores. O entusiasmo vem da possibilidade de surgir uma indústria alimentícia que exija menos espaço, que gere menor impacto ambiental e que alcance capacidade produtiva maior, na comparação com a criação de animais.

Entretanto, um dos obstáculos para as carnes de laboratório ainda está no custo de produção, que é atuamente é bastante elevado. Os nuggets que a Eat Just apresentou para a avaliação em Cingapura, por exemplo, teriam preço de mercado equivalente ao de um prato de frango premium em um restaurante de alto padrão, o que o torna impeditivo.

Porém, a perspectiva é de que, tão logo a produção sai do nível do experimento e alcance a escala comercial, as carnes de laboratório alcance preços que sejam competitivos no mercado.