Meio Ambiente

O papel, o plástico e a responsabilidade na escolha

Desde o dia 1º de janeiro, o Município de São Paulo baniu o uso de copos, talheres, agitadores de bebidas e daquelas varinhas utilizadas em balões que sejam confeccionados em plástico. Por força da Lei Municipal 17.261, sancionada no ano passado, hotéis, bares, restaurantes, padarias, espaços para festas infantis, clubes noturnos, salões de dança e eventos culturais e esportivos realizados na capital paulista estão proibidos de distribuir esses utensílios à população.

Como em grande parte das vezes o papel torna-se o substituto imediato para o plástico, a medida reacende uma antiga controvérsia, que confronta o impacto ambiental causado por ambos e daí surge a pergunta: será que de fato utilizar o papel resolve o problema?

Entre prós e os contras, a queda de braço

A vantagem mais evidente do papel sobre o plástico está no fato de ele se degradar mais rapidamente. Enquanto o papel leva de três a seis meses para ser decomposto no ambiente natural, o plástico exige 400 anos.
Então, se degradando mais facilmente, o papel logo se integra ao meio natural. Assim, todos os problemas que seriam causados por determinado objeto caso ele fosse de plástico e descartado de maneira errada — que incluem a impermeabilização do solo, morte de animais por sufocamento e poluição visual, entre outros — são evitados.
Ora, se fosse suficiente considerar somente esse quesito, não restaria dúvida: a solução estaria no papel. Porém, também é preciso considerar os processos de produção dos dois materiais, que consomem energia e, consequentemente, impactam o meio ambiente.

Em 2011, quando esse assunto já era discutido na Europa, um levantamento da Irlanda do Norte constatou que o consumo de energia para produzir papel seria quatro vezes maior do que o necessário para a produção de plástico em quantidades equivalentes para as mesmas aplicações. Por ocupar mais espaço e por ser mais pesado do que o plástico — considerando, é claro, a quantidade de material que é utilizada para confeccionar o mesmo tipo de produto —, o papel também consome mais energia no transporte. Além disso, também é preciso considerar as extensas áreas que precisam ser destinadas ao plantio de florestas, necessárias para a produção de papel, e que, por serem de espécie única, não equivalem em termos de diversidade de bioma ao que representa uma floresta natural.

Por outro lado, ao contrário do plástico, que é oriundo do petróleo, essas florestas fixam o carbono suspenso na atmosfera, ajudando a abrandar o efeito estufa. Porém, justamente por serem mais duráveis, alguns produtos de plástico — como as sacolas retornáveis de supermercado — seriam menos prejudiciais ao meio ambiente, uma vez que representam menor volume de resíduos descartados em um mesmo espaço de tempo.
Diante de tantas variáveis, a indústria se aproveita para “puxar a brasa para a própria sardinha”. Assim, fabricantes de plástico atacam o papel e vice-versa, deixando para o consumidor a bomba da decisão e para o poder público o ônus da regulamentação.

Qual a melhor escolha?

Tendo em vista que os dois materiais são prejudiciais ao meio ambiente, cabe ao consumidor se servir do bom senso e lançar mão da sabedoria dos 3 R’s — Reduzir, Reciclar, Reutilizar —, que orienta as pessoas a reduzirem o consumo, a selecionarem os materiais para a reciclagem e a reutilizarem tudo o que for possível.
A redução do consumo não implica necessariamente na redução do padrão de conforto e de satisfação com a vida. Cortar aquilo que, de fato, não é necessário — o que deve ser resolvido por critérios pessoais — já representa uma grande economia de recursos. Por exemplo, o uso consciente de papel toalha na cozinha, evitando desperdícios, já é uma conquista.

A seleção do papel, do plástico e de outros materiais para a reciclagem, por sua vez, é algo simples de se fazer e tem um impacto positivo imenso sobre o planeta. Ainda, a reutilização de embalagens e de outros produtos que possam servir mais vezes a um mesmo propósito ou a propósitos diferentes combina os dois “erres” anteriores: reduz o consumo e, de certa forma, recicla a utilidade dos itens reutilizados.

As caixas de papelão que embalam os produtos que são vendidos nos supermercados, e que agora estão disponíveis para o consumidor junto aos caixas de grande parte deles, são um ótimo exemplo disso. Além de acondicionarem de maneira mais organizada as compras no carro e de evitar o consumo de sacolinhas, elas ainda podem auxiliar no descarte dos recicláveis, assumindo novamente a função de embalagem e favorecendo a organização.

Ou seja, com atitudes simples, no final das contas, você acabará moldando um quarto R, que é o da responsabilidade.