Saúde & Qualidade de Vida

O que será de nós quando a normalidade voltar? Psicóloga indica alguns caminhos que poderemos seguir.

Ainda que a passos muito mais lentos do que gostaríamos, a vacinação está avançando no Brasil. Além disso, mesmo que uma parte considerável da população não esteja plenamente convencida sobre a real gravidade da situação sanitária que estamos vivendo e, assim, resista diante da necessidade de adotar rigorosamente as medidas de prevenção à Covid-19, outra grande parcela vem cumprindo o papel que cabe a qualquer cidadão — de usar máscara, manter o distanciamento e cuidar da higiene frequente das mãos.

Desta forma, mesmo sob ameaça de virem novas ondas de transmissão do vírus, a chamada “normalidade” parece que já começa a se anunciar e, mais dia, menos dia, deve acontecer. Por isso, não há nenhum problema e já começarmos a nos preparar para quando esses dias chegarem aqui no Brasil.

O processo de volta à normalidade já está acontecendo nos Estados Unidos, onde a vacinação em massa está bastante adiantada — até o momento, mais de 290 milhões de americanos já foram vacinados, com a cobertura vacinal tendo alcançado a quase 90% da população com pelo menos uma dose aplicada, como aponta o site Our World in Data. Por lá, o uso de máscara, por exemplo, já não se faz tão necessário e muitas pessoas já começaram a retomar a vida normal com alguma segurança.

Diante da perspectiva de volta às rotinas, a psicóloga e professora de Psicologia da Universidade da Virgínia, Bethany Teachman, se viu diante de uma dúvida que deve ser bastante comum na atualidade. Afinal, com uma pausa tão longa em um estilo de vida, muitas pessoas devem estar se pergunta para onde de fato vamos voltar. O que realmente valerá a pena se retomado, ser reconstruído, o que devemos deixar para trás e quais caminhos devemos experimentar pela primeira vez?

Com base na psicológica clínica, Bethany procurou indicar algumas possibilidades, que, talvez, nos ajudem a reiniciar a vida normal de maneira mais proveitosa, quando esta hora também chegar ao Brasil.

A retomada deve acontecer com base em perspectivas realistas

Há quem esteja ansioso por sair na rua abraçando todo mundo, por aglomerar sem restrições e por abandonar logo todas as medidas de prevenção. Ocorre que o mais provável é que, por um bom tempo, esta situação não seja de fato a mais segura, principalmente aqui no Brasil.

Diante disso, Bethany entende que, se você definir expectativas razoáveis com relação ao que de fato poderemos fazer durante a retomada, a probabilidade de sentir alguma decepção será menor. “Por exemplo, você provavelmente sentirá um pouco de ansiedade ao tentar descobrir o que é certo fazer e o que ainda é arriscado. Mesmo que o nível de risco tenha diminuído em muitos lugares (lembrando que ela fala da realidade dos Estados Unidos), ainda há incerteza e imprevisibilidade associadas aos riscos atuais do coronavírus e é natural sentir-se ansioso ou ambivalente ao abandonar um hábito estabelecido  — como o de usar máscaras. Portanto, esteja pronto para um pouco de ansiedade e perceba que isso não significa que algo está errado – é uma reação natural a uma situação nada natural”, recomenda.

A professora considera que seja provável muitas interações sociais parecerem um pouco estranhas no início, uma vez que perdemos a prática na socialização — e, segundo ela, é a prática repetida que nos ajuda a nos sentirmos confortáveis. “Mesmo que suas habilidades sociais estivessem no auge (antes da pandemia), o momento atual serve muito para navegar interpessoalmente. Provavelmente, você nem sempre concordará com as pessoas em sua vida sobre onde traçar os limites sobre o que é seguro e o que não é”, acredita.

Bethany ressalta que os sentimentos de afeto em relação a todos os colegas de trabalho ou de escola, a familiares, amigos e vizinhos não retornarão automaticamente. “Muitos dos pequenos aborrecimentos que surgiram em suas interações antes de você ouvir falar da Covid-19 ainda estarão lá. Portanto, espere algum constrangimento, frustração e aborrecimento – todos estão criando novos padrões e se ajustando aos relacionamentos alterados. Tudo isso deve ficar mais fácil com o tempo e a prática. Mas, ter expectativas realistas pode tornar a transição mais suave”, acredita.

Considere mais os seus próprios valores

Pensar nas próprias prioridades ajudará a planejar em quais atividades e relacionamentos deveremos investir nosso tempo e energia. “Viver de maneira consistente com seus valores pode promover o bem-estar e reduzir a ansiedade e a depressão. Muitos exercícios terapêuticos são planejados para ajudar a reduzir a discrepância entre seus valores declarados e as escolhas que você faz no dia a dia”, explica Bethany.

Para ilustrar os diferentes papéis e a importância de cada um para a maneira como uma pessoa se sente sobre si mesmo e com relação aos valores que prioriza, a professora dá como exemplo uma mulher a quem tenha sido pedido que fizesse um bolo. “Você pode valorizar muito seus papéis de mãe, esposa e amiga, atribuindo a eles os maiores pedaços de seu bolo. Agora, o que aconteceria se você fosse solicitado a cortar aquele bolo de uma forma que reflita como você realmente aloca seu tempo e energia ou como você realmente tende a se avaliar? O tempo que você passa com os amigos é muito menor do que o que deveria ser, considerando o valor que eles têm para você? A tendência de se julgar com base em exigências de trabalho rígidas é muito mais alta?”, questiona.

É verdade que o tempo não deve ser a única medida significativa e as pessoas podem passar por períodos em que certas partes de suas vidas precisam ser dominadas por outras pessoas ou atividades — como ocorre com alguém que tenha um filho recém-nascido e que precisa se dedicar mais a ele ou como um aluno que está próximo às provas finais e que tem que concentrar nos estudos. “Mas este processo de considerar seus valores e tentar alinhar o que você valoriza e como você vive pode ajudar a orientar suas escolhas durante este momento complexo”, esclarece Bethany.

Procure o equilíbrio em atividades  gratificantes

De acordo com a professora, os psicólogos clínicos recomendam o  envolvimento em atividades que sejam gratificantes, o que é útil para afastar o humor negativo. “Fazer coisas que são prazerosas, que proporcionam uma sensação de realização ou que ajudam você a atingir seus objetivos pode ser gratificante. Então não se trata apenas de diversão. Para a maioria das pessoas, algum equilíbrio entre atividades divertidas, produtivas, sociais, ativas e relaxantes na vida é a chave para sentir que suas diferentes necessidades estão sendo atendidas”, destaca.

Bethany recomenda que você preste atenção em suas atividades e em seu humor por uma semana. “Veja quando você se sente mais ou menos feliz e quando acha que está atingindo seus objetivos e faça os ajustes. Será preciso tentar e errar para encontrar o equilíbrio das atividades que proporcionem essa sensação de recompensa”, considera.

Este é um momento de preservar ou de expandir as relações?

Há pesquisas que mostram que a percepção do tempo pode influenciar seus objetivos e sua motivação . Com base nisso, Bethany verifica que é provável que pessoas que sentem que o tempo está passando mais rápido busquem conexões mais profundas com um número menor de pessoas — como costuma acontecer com adultos mais velhos ou com doenças graves . “Por outro lado, aqueles que acham que o tempo é aberto e expansivo tendem a buscar novos relacionamentos e experiências”, diz.

 

Portanto, quando as restrições impostas pela pandemia também começarem a diminuir no Brasil, dependendo da forma como você percebe as relações, é possível que você sinta maior ansiedade para visitar um amigo próximo que vive no interior, por exemplo, ou, em vez disso, que sinta uma grande atração por uma viagem um local exótico e por fazer novos amigos. “Não há uma resposta certa, mas entender isso pode ajudar você a considerar suas prioridades atuais e a planejar a próxima reunião ou viagem de forma conveniente”, acredita Bethany.

Tenha gratidão e pague com solidariedade

No futuro, que todos nós esperamos que seja próximo também no Brasil, quem estiver vacinado e saudável e puder retornar às atividades normais fará parte do grupo dos afortunados que, após mais de um ano de perdas tão devastadoras, sobreviveram a toda essa tragédia. Diante disso, Bethany recomenda, que, ao planejar como usar esse tempo que virá, seria interessante essas pessoas considerarem que  a saúde emocional tende a melhorar quando elas fazem alguma coisa para beneficiar o outro.

“Ter a intenção de ajudar os outros é uma situação em que todos ganham. Muitas pessoas e comunidades estão necessitadas agora, então pense em como você pode contribuir — seja com tempo, dinheiro, recursos, habilidades ou ouvindo. Perguntar o que a sua comunidade precisa para se recuperar e prosperar e como você pode ajudar a atender a essas necessidades, bem como considerar o que você e sua família precisam, pode aumentar o bem-estar de todos”, destaca a professora.

Por fim, na medida que a perspectiva do retorno à chamada vida normal se aproxima, para não ficarem desapontadas, Bethany recomenda que as pessoas não esperem que a vida ideal surja após a pandemia. “Em vez disso, seja grato e intencional sobre o que você escolhe fazer com este presente de uma reinicialização. Com um pouco de pensamento, você pode fazer melhor do que o chamado normal”, conclui.

 

Uma dica

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