Cidadania

Com mais oportunidades para a transmissão do vírus, índices da Covid-19 voltam a aumentar em BH

Diferente do ar lúgubre que, não faz muito tempo, dominava Belo Horizonte, quem anda pelas ruas da cidade já percebe a vida tentando voltar a algum nível de normalidade, o que é muito bom. Com ou sem Covid-19, não há dúvidas de que população precisa retomar uma rotina produtiva e a sinalização para essa possibilidade vinha sendo dada pelos indicadores da pandemia que, diariamente, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) anuncia e que, até na semana passada, estavam no nível verde de alerta.

Entretanto, em meio à volta das atividades e mesmo com a avanço da vacinação na capital, a possibilidade de um retrocesso nos índices já se apresenta. Há três dias os indicadores utilizados pela PBH para medir a ameaça do vírus sobre a população — com destaque para taxa de transmissão e de ocupação de leitos Covid — vêm aumentando e já retornaram ao nível amarelo e é possível que esse retrocesso esteja associado ao maior número de pessoas nas ruas.

Comportamento de risco

Um dos grandes problemas da pandemia está justamente na necessidade de restringir a circulação das pessoas, o que, por várias vezes, foi duramente criticado em todo o mundo. Entretanto, mesmo em países onde a taxa vacinal está bastante avançada — como no Chile e Israel, que já se aproximam dos 60% da cobertura vacinal de toda a população — o risco de haver um retrocesso nos índices da pandemia permanece, em função de ainda ser muito alto o número de não vacinados.

Em entrevista dada ao podcast E Tem Mais da CNN, apresentado pela a jornalista Carol Nogueira (confira abaixo), o médico infectologista José David Urbaéz Brito destacou a relação que há entre o aumento na circulação de pessoas nas cidades com a elevação dos índices da pandemia. Segundo Brito, a maior oportunidade de contato de pessoas infectadas com pessoas saudáveis cria a oportunidade para armar o ciclo de transmissão do vírus, o que, consequentemente, leva à elevação de todos as taxas de medição.

O médico destaca que o número de pessoas não vacinadas ainda é muito alto o que, associado ao aumento da mobilidade das pessoas nesse momento, é um grande problema. “Mesmo na vigência de altas taxas de vacinação (acima de 50% do ciclo vacinal completo), continua havendo um grupo muito importante que não se vacinou e que está com enorme mobilidade, o que faz com que a vacina não seja tão potente quanto poderia”, diz Brito na entrevista.

Segundo o epidemiologista, somente a partir do momento em houver uma vacinação de 80% de toda a população seria possível pensar na retirada de todas as restrições à circulação das pessoas.

Os índices da pandemia em BH estão de volta ao nível amarelo de alerta (Imagem: Reprodução/PBH)
Descaso

Ainda que esteja longe do nível mínimo de imunização mencionado por Brito — até 13 de julho, pouco mais de 20% dos belo-horizontinos haviam completado o ciclo vacinal, segundo a PBH —, em Belo Horizonte temos testemunhado repetidos abusos de uma parcela considerável da população diante da flexibilização das atividades na capital. Em meio os comportamentos de risco, a taxa de transmissão já voltou ao patamar 1, no qual cada infectado transmite o vírus para mais uma pessoa, e a ocupação dos leitos já ultrapassam os 50% para os de enfermaria e os 60% para as UTIs. Some-se a isso a possibilidade de a variante delta aumentar ainda mais o número de casos, nos vemos novamente diante de um desafio que, nesse momento, está nas mãos da população.

Afinal, todas as pessoas já conhecem muito bem todos os protocolos de contenção do contágio — como manter a distância de outras pessoas, evitar aglomerações, usar máscara, higienizar as mãos e, sobretudo, raciocinar. Mesmo assim, muitas que mantêm o descaso sobre a gravidade da situação que estamos vivendo continuam dando oportunidade para que o vírus continue se alastrando.