Cidadania

Bullying é coisa séria e é preciso muito empenho para combatê-lo

Em épocas passadas, as “brincadeiras” discriminatórias voltadas para quem não atendia aos padrões físicos, estéticos ou comportamentais eram bastante comuns e toleráveis. No mesmo nível de tolerância, até intimidações e agressões físicas eram vistas como um comportamento próprio da infância ou da adolescência. Nada de mais.

Contudo, naquele tempo, quando o conceito de bullying ainda não havia se popularizado, o que parecia ser apenas um chiste ou demonstração de força, na verdade, configurava atitudes de maus-tratos que tinham como vítimas recorrentes pessoas de todas as idades — mas principalmente crianças e adolescentes — consideradas mais fracas e vulneráveis. Felizmente, já há alguns anos, o assunto começou a ser visto com a devida seriedade e a prática deixou de ser aceita como algo de menor valor.

Pelo contrário, vem sendo cada vez mais recriminada e combatida e, por grande parte das pessoas, já é reconhecida como algo que nada tem a ver com uma brincadeira ou com uma implicância, sem maiores consequências. Ainda assim, há bastante a ser feito, principalmente diante das sequelas que o bullying pode causar.

Estímulo a distúrbios

Uma das grandes dificuldades de se combater o bullying está no fato de, muitas vezes, o problema só ser encarado com a devida seriedade por determinados grupos quando algo mais grave acontece — por exemplo, se a vítima de ataques tirar a própria vida ou cometer outro ato de desespero evidente. Porém, ainda que situações extremas não sejam frequentes, existem outras consequências precisam ser vistas com atenção e vigilância permanente.

Essa afirmação é respaldada por um estudo realizado no Reino Unido, que detectou que a ideia de suicídio passou pela cabeça de cerca de 17% dos adolescentes entre 11 e 16 anos entrevistados que sofreram algum tipo de ataque desta natureza. A ansiedade foi mencionada por 78% dos jovens como uma consequência do bullying, que levou 56% deles a perderem noites de sono. O levantamento mostra que 57% das crianças já foram vítimas desses maus-tratos e 74% testemunharam atos dessa natureza.

Para o professor de Direito Jonathan Todres, da Universidade Estadual da Geórgia, nos Estados Unidos, que é pesquisador e especialista do assunto, embora os casos devastadores, compreensivelmente, chamem mais atenção, eles criam o risco de passar a impressão de que o bullying é um problema apenas quando surge uma ocorrência grave. “Na verdade, o bullying é generalizado e costuma causar danos. À medida que se espalha a consciência de que o bullying não é apenas um rito de passagem da infância, mas um importante problema de saúde pública , a demanda por ação aumenta”, disse Todres em artigo para o site The Conversation.

De acordo com o professor, crianças que sofrem bullying têm maior probabilidade de desenvolverem uma variedade de distúrbios psicológicos, incluindo depressão e ansiedade. “Os jovens que sofrem bullying também relatam vários sintomas físicos , incluindo dores de cabeça, distúrbios do sono e dores de estômago”, destaca Todres.

Efeitos de longo prazo

De acordo com o pesquisador, o impacto o bullying pode ser sentido por anos, com as consequências persistindo até a idade adulta. Além disso, o professor ressalta que não são apenas os alvos dos ataques que sofrem consequências. “Crianças que intimidam outras pessoas e espectadores que testemunham o assédio também correm maior risco de consequências adversas para a saúde mental”, diz.

Segundo Trodes, um relatório da Academia Nacional de Ciência, Engenharia e Medicina, organização não governamental dos Estados Unidos que ele integra, demonstra que tanto as crianças que são alvos do bullying quanto as que promovem os ataques podem estar sob risco. “Essas crianças podem apresentar sintomas relacionados à saúde mental, como depressão, ansiedade e abstinência. Elas também podem mostrar sintomas relacionados ao comportamento, como raiva e agressão”, considera.

Identificando e combatendo o bullying

Para o professor Tedros, uma etapa essencial para a identificação do bullying é o treinamento de professores e de outras pessoas que trabalhem com crianças e adolescentes. “O relatório observa que programas de treinamento devem ser contínuos e avaliados para garantir que os profissionais e voluntários que trabalham com jovens possam efetivamente identificar o bullying e intervir de forma adequada”, ele diz.

No âmbito do cyberbullying — que é o bullying praticado pelas redes sociais —, Tedros destaca uma recomendação do relatório da Academia para que as empresas responsáveis pelas mídias desenvolvam políticas e programas de prevenção, identificação e resposta ao bullying em suas plataformas.

Além disso, Tedros ressalta a necessidade de mais pesquisas que possam oferecer maior compreensão do bullying e de suas consequências. “De legisladores a pais, de empresas de tecnologia a professores, todos temos um papel a desempenhar na prevenção do bullying e na garantia de ambientes seguros para as crianças”, conclui.

Uma dica

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