Cidadania

Índices da pandemia demonstram que não é hora de vacilar!

Belo Horizonte vive um momento da pandemia no mínimo curioso — para não dizer que é um dos mais confusos e, talvez, dos mais perigosos. Nele, se alguém acordasse de um coma iniciado antes de a Covid-19 ter alterado completamente as nossas rotinas e resolvesse dar uma volta pela cidade, no princípio, talvez não notasse nada de muito diferente no cotidiano, na comparação com o que era há pouco mais de um ano e meio.

Afinal, o trânsito voltou a apresentar os problemas tradicionais, com os pontos de engarrafamento novamente travados, as pessoas estão frequentando os centros comerciais em quantidade que era comum naquele nosso passado recente e até os estádios de futebol já voltaram a receber público! Ou seja, pelo menos na aparência, a sensação de normalidade começa a se espalhar pela capital de uma forma que vem deixando as pessoas mais tranquilas com relação ao que está se passando — e, consequentemente, talvez mais relaxadas, o que é preocupante.

Já habituada às benditas e salvadoras máscaras, às embalagens de álcool por todos os lados, aos termômetros na entrada das lojas e até aos números ainda muito elevados de mortes que todos os dias são divulgados pelos noticiários — o que, certamente, provocaria um choque no comoso recém-acordado —, grande parte da população belo-horizontina parece que já nem liga para o fato de haver um vírus mortal circulando pela cidade.

Índices animadores
Gráficos da PBH mostram que os novos casos diários de Covid-19 e de mortes pela doença estão em níveis próximos ao do início da pandemia na capital (Imagem: Reprodução)

De fato, felizmente, há motivos para que o belo-horizontino comece a reagir de forma positiva a tudo o que está acontecendo e tenha algum otimismo com relação a um futuro mais próximo. Olhando a coleção de números que define em que nível está o combate à doença e qual o risco ela ainda representa para a população temos a impressão de que estamos em um caminho que parece promissor.

Com relação à vacinação, por exemplo, até o dia 18 de agosto, quando foi emitido o Boletim Epidemiológico 336 da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), 72,5% da população com mais de 18 anos já haviam recebido a primeira dose da vacina e 35,6% já estavam com o ciclo vacinal completo. Ao mesmo tempo, o Matriciamento de Risco (MR) — que é o parâmetro que a PBH utiliza para determinar a abertura ou o fechamento das escolas — estava em 89%, a dois pontos percentuais da liberação do retorno às aulas presenciais sem restrições, que deve ocorrer quando o MR chegar a 91%.

Os gráficos que revelam a variação nos números diários de mortes por Covid-19 e de novos casos na cidade também estão em patamares próximos aos do início da pandemia.

Ou seja, há bons motivos para a população acreditar que o pior já passou.

Otimismo

Todos esses bons índices têm levado a um otimismo no setor de serviços da capital, o que é muito bom. Um levantamento da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CLD/BH) aponta que o empresariado do setor está mais otimista no momento, em uma comparação com o primeiro semestre do ano. De acordo com o Indicador de Confiança do Serviço da CDL/BH (ICS-CDL/BH), as expectativas melhoraram 7,4% em relação à verificação anterior, evoluindo de 42,2 pontos para 49,6 pontos.

O ICS-CDL/BH é baseado em uma escala de 0 a 100, na qual a pontuação entre 0 e 49,9 indica opinião negativa, 50 aponta opinião neutra e acima de 50 opinião positiva. A pesquisa abrange as nove regionais de Belo Horizonte e considera empresas de todos os portes que atuam como prestadores de serviço.

Ainda que o otimismo não seja geral entre os empresários, o levantamento identificou que quatro das nove regionais da capital apresentaram opiniões positivas quanto ao futuro próximo — Oeste (60,3), Norte (58,7), Centro-sul (57,4) e Barreiro (50,5).

Mas, a pandemia ainda é ameaça grave

Porém, mesmo com todos os fatos positivos que estão surgindo, a pandemia ainda permanece em patamares que são considerados preocupantes pelos especialistas. O número de novos casos por 100 mil habitantes em 14 dias aferido pela PBH no dia 17 de agosto, por exemplo, foi de 160,3, o que daria algo em torno de 80 casos em sete dias.

Tomando por base os parâmetros adotados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, um patamar de transmissão do vírus considerado substancial é registrado quando há entre 50 e 99 novos casos de infecção por 100 mil habitantes por semana — é alta quando ultrapassa 100. Com referência aos padrões da própria PBH, o risco baixo de transmissão só será atingido quando tivermos 20 ou menos novos casos diários por 100 mil habitantes no espaço de 14 dias. Ou seja, quatro vezes menos do que foi registrado.

Outro ponto que merece atenção é a elevação significativa desse índice. Vale destacar que entre os dias 12 e 16 os números ficaram abaixo dos 150 novos casos por 100 mil habitantes em 14 dias  — chegaram ao mínimo de 141,1 dia 16 — e tiveram um salto importante no dia 17.

O número médio de transmissão (RT) por infectado é outro indicador de monitoramento que voltou a subir. O RT representa a capacidade que o vírus encontra para se propagar em uma comunidade e é apurado pelo número médio de pessoas infectadas que cada pessoa contaminada produziu.

Assim, quando o índice RT está em 1 significa que cada infectado tem potencial para produzir um novo doente, o que coloca aquele grupo populacional em estágio de alerta. Desde o dia 22 de julho, o RT em BH era registrado abaixo desse patamar, que voltou a ser atingido no dia 17 e chegou a 1,02 no dia 18, significando que a pandemia reacelerou na cidade.

Um olho peixe, outro no gato

Se por um lado a população já está mais adaptada às pressões que a Covid-19 colocou sobre a vida diária, e, portanto, mais tranquilas, o que é positivo, por outro há sinais de que o momento abandonar as cautelas. Ao contrário, os índices indicam que a atenção com os cuidados básicos não deve ser relaxada.

Certamente, todo o esforço feito aqui pela maior parte da sociedade vem sendo compensado pelas inúmeras vidas que estão sendo preservadas. Abrir mão disso agora, no momento em que a situação parece melhorar — mas que pode piorar, principalmente com as novas variantes —, não seria nada inteligente.

Diferente daquele comoso hipotético, que não teria noção de tudo o que experimentamos para chegar até aqui, nós entendemos muito bem o que vem sendo essa travessia. Portanto, não é hora de vacilar!