Cultura

Eri Gomes, o morador do Anchieta que reproduz nas telas os postais de BH

Apesar do nome espanhol, El Paseante é um personagem bem mineiro, que caminha por uma Belo Horizonte atemporal, que é observada a partir dos mesmos ângulos que serviram aos velhos cartões postais da cidade. Há quem diga que a silhueta  vistas nos quadros do pintor Eri Gomes remete ao escritor português Fernando Pessoa. Mas, seu criador dá a entender que a inspiração talvez esteja bem mais próxima. Quem sabe, um alterego do próprio artista?

Postais de BH

A observação da paisagem belo-horizontina é algo que acompanha Eri de longa data. Aliás, Postais de BH foi o título da exposição que ele promoveu em 2005, na extinta Tella Galeria de Artes, e que foi composta por vários pontos de vista da cidade onde nasceu, em 1963.

Visto junto ao Cine Brasil — um dos cartões postais de BH sempre presentes na obra de Eri — o personagem El Paseante observa a cidade com os olhos de um bom mineiro (Foto: Alexandre Amaral)

E sua obra são recorrentes temas icônicos, como o Cine Brasil, a Igreja de São Francisco, na Pampulha, o Edifício Niemeyer, na Praça da Liberdade e vistas da Serra do Curral, entre outras cenas que são facilmente identificadas por quem conhece a arquitetura e a paisagem locais. Porém, Eri também busca inspiração no cinema, que está sempre presente em seu trabalho. “Especialmente o cinema expressionista alemão, o film noir, o Cinema Novo Brasileiro e os clássicos do cinema”, explica.

Na música também merece destaque no trabalho que Eri desenvolve. “Costumo brincar, dizendo que sou um pintor movido a música, mas é a pura verdade (risos). Cheguei a estudar música e o meu primeiro mestre foi o grande Laércio Villar, que é um maestro na bateria e me fez ouvir Além dos Muros (de Olívar Barreto), a música que nos leva muito além do horizonte”, poetiza Eri.

Claro e escuro
No trabalho de Eri o contraste de cores e de luzes e o jogo entre o claro e o escuro são frequentes (Foto: Reprodução)

Casado há 25 anos com a encadernadora e restauradora de livros Ana Advincula, Eri é morador do Anchieta e quem conversa com ele logo percebe o jeito de um legítimo mineiro. Porém, foi em Curitiba, para onde se mudou com a mãe aos cinco anos, que, aos 12, iniciou a formação artística. “Fiz o curso de desenho e pintura do Centro de Arte do Parque São Lourenço, com o professor João Ozório Brzezinski. Quando retornamos a BH (Eri tinha 18 anos à época), estudei Gravura na Oficina Goeldi, com o mestre Fernando Luiz Tavares, e fiz cursos livres na escola Guignard”, conta.

O artista destaca que a convivência que teve com artistas de várias áreas naquele período direcionou o trabalho que ele desenvolve hoje. Além de abrir os caminhos para a conquista de prêmios como pintor e para participar de inúmeras exposições, inclusive no exterior, as múltiplas experiências no campo da arte acabaram levando Eri a produzir cenários para o teatro e ilustrações para o cinema.

Levaram-no também a utilizar técnicas variadas — que vão do desenho a carvão ao grafite em spray, passando pela aquarela, pelo bico de pena, acrílica e, sobretudo, pelo óleo. Observando seus quadros, nota-se que o artista flerta livremente com vários estilos e períodos da história da arte. Mas, segundo ele mesmo, é no expressionismo que está a sua base mais consistente. “Trabalho a luz no chiaroescuro (técnica que explora a luz e a sombra nas pinturas). Herança da xilogravura e das sessões de cinema”, justifica.

Vernissage de Boteco
Na Vernissage de Buteco, realizada em 2019 no Bar do Vidotti, Eri voltou a expor seus trabalhos (Foto: Carlos Alberto Rocha)

Afastado do mercado da arte por problemas de saúde, Eri passou a atuar apenas no atelier no Anchieta, que divide com a esposa. Contudo, a convite do jornal Comunidade Ativa e com o apoio da Amoran, entre março e abril de 2019 ele brindou seus admiradores com a mostra Vernissage de Boteco, realizada no Bar do Vidotti, da Penafiel, que proporcionou um ambiente descontraído e acolhedor, que é a cara do artista.

De acordo com Carlos Alberto Rocha, editor do jornal e organizador da mostra, além de permitir ao público o contato com obras de arte de alto nível e mais do que as boas lembranças que a exposição deixou, ficou a sensação de que algo semelhante precisa ser repetido em nossa região. “A Vernissage foi uma oportunidade única que as pessoas tiveram para encontrar com o artista e com a sua obra em um ambiente propício para a troca de informações sobre o trabalho que ele realiza e sobre a vida que o inspira. Queremos muito criar novas oportunidades para que esta interação ocorra no bairro e vamos buscá-las junto ao próprio Eri e a outros artistas que queiram participar desse tipo de evento”, considera Carlos.