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Crianças e adolescentes devem se vacinar? Pediatra responde a esta e a outras questões sobre a vacinação do público infantojuvenil

Enquanto no Brasil e em boa parte do mundo, mesmo para o público adulto, a vacinação caminha a passos lentos, a necessidade e a segurança das vacinas contra a Covid-19 para crianças e adolescentes já são temas de debates no meio científico e vem ocupando também a atenção da indústria farmacêutica. O assunto também é de interesse direto do pais ou de responsáveis pelos pequenos, que também se preocupam com a exposição deles ao vírus.

Confira a seguir as respostas do médico pediatra James Wood para cinco questões importantes sobre a vacinação e sobre os riscos que corre o público infantojuvenil.

1. As crianças e os adolescentes precisam tomar a vacina?

De acordo com Woods, que é professor de Pediatria Clínica na Escola de Medicina da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, objetivamente, a resposta é sim. Ainda que estudos indiquem que a Covid-19 não seja tão grave em crianças,  principalmente nas mais novas, isso não significa que elas não possam ser infectadas pelo vírus. “Crianças menores de 12 anos que contraem a Covid-19 tendem a ter a doença na forma leve ou nenhum sintoma, enquanto os adolescentes parecem ter respostas intermediárias, entre o que os adultos e as crianças mais jovens experimentam”, avalia o pediatra.

Woods destaca que os adolescentes costumam ter duas vezes mais chances de receberem diagnóstico positivo para a doença do que as crianças entre cinco e onze anos. “Os pesquisadores ainda estão tentando entender por que há essas diferenças entre crianças mais velhas e mais novas. O comportamento provavelmente desempenha um papel. Os adolescentes são mais propensos a se envolverem em atividades sociais ou em grupo e podem ou não usar máscaras. Diferenças imunológicas e fatores biológicos também podem desempenhar algum papel”, considera.

Entretanto, o médico destaca que, mesmo que seja mais comum a Covid se manifestar de forma leve entre as crianças, isso não significa que elas não estejam expostas a sérios riscos. Infelizmente, essa evidência tem sido comprovada por internações de crianças com quadros graves provocados pelo novo coronavírus e, inclusive, pelas mortes de algumas delas.

Portanto, o pediatra ressalta que, também para as crianças e adolescentes, deve prevalecer as recomendações de distanciamento social e de uso de máscaras, principalmente enquanto a vacina não chega a elas.

2. Antes da vacina, as crianças estão espalhando o vírus?

Segundo Woods, em escolas onde as diretrizes de contenção do vírus são seguidas com rigor, aparentemente, a transmissão da Covid não chega a ser preocupante. O médico destaca que, nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) encontrou pouca diferença nos níveis de contaminação das crianças com aulas presenciais na comparação com as que estavam recebendo ensino remoto.

Porém, antes de a vacina chegar até o público infantojuvenil, a grande questão está exatamente em haver ou não garantia de que as escolas cumprirão as regras com rigor. “Se não houver precauções, as crianças infectadas com o coronavírus podem muito bem transmiti-lo aos adultos . O que ainda não está claro é o quão grande é esse risco”, explica Woods.

O professor entende que, com os adolescentes em particular, a necessidade do uso de máscara não pode depender de a pessoa ter sido vacinada ou não. “Até que a imunidade coletiva esteja em um bom nível, o distanciamento social e usar máscara ainda serão necessários”, diz.

3. Quando as crianças e os adolescentes poderão ser vacinados?

Woods explica que para haver uma resposta concreta para essa questão a indústria farmacêutica ainda precisa realizar mais testes com as vacinas. Nos Estados Unidos, por exemplo, a vacina da Pfizer foi a única que, até o momento, recebeu autorização para ser aplicada em adolescentes a partir dos 16 anos . “Realisticamente, crianças pequenas provavelmente não serão elegíveis para a vacina antes do final do outono ou do inverno (a referência é relacionada à realidade dos Estados Unidos). A Moderna anunciou no dia 16 de março que começou a testar a vacina em crianças de seis meses a onze anos . A Pfizer ainda não atingiu esse estágio e essas tentativas levam tempo”, esclarece.

4. O que há de diferente nas vacinas que as crianças e adolescentes receberão?

De acordo com o pediatra, a diferença está na dosagem, uma vez que a composição das vacinas para crianças e adolescentes permanece a mesma da usada para adultos. “O primeiro passo nos testes de vacinas é descobrir a dose certa. As empresas querem encontrar a menor dose possível que seja segura e produza um nível-alvo de anticorpos. Assim que a indústria determinar a dose ideal, ela lançará um estudo controlado com placebo para testar sua eficácia, no qual algumas crianças receberão um placebo e algumas receberão a vacina”, explica.

Woods se mostra otimista quanto à possibilidade de, logo, haver uma vacina segura e eficaz para o público infantojuvenil. “Até o momento, não houve nenhum sinal de segurança dos estudos de adultos ou adolescentes que me preocuparam como pediatra. Mas, os estudos ainda precisam ser feitos em crianças”, diz.

5. Antes da vacina, como as crianças podem brincar com segurança?

“Quando converso com os pais, explico que esta é uma questão de risco versus benefício. Cada família tem uma tolerância diferente. Do ponto de vista médico, a saúde mental das crianças e fazer com que elas brinquem com outras crianças é uma parte importante da infância”, considera Woods. Entretanto, o pediatra alerta para o risco elevado que existe nas brincadeiras entre crianças de diferentes famílias em um espaço fechado, sobretudo quando elas estão sem máscara. “Encorajo as crianças a brincarem ao ar livre. Ande de bicicleta, brinque e socialize. Apenas faça isso de maneira segura”, recomenda.

Woods entende que todos nós — inclusive as crianças e, sobretudo, os profissionais de saúde — estejamos cansados de todas as exigências impostas pela pandemia. Entretanto, mesmo com a vacinação tendo sido iniciada e mesmo que logo ela chegue também ao público infantojuvenil, o momento não é de abrir mão das medidas de segurança. Pelo contrário, a hora é de redobrar os cuidados. “A pior coisa que podemos fazer assim que começamos a ver uma luz no final do túnel  é andar para trás novamente. Isso tornaria tudo muito mais demorado para todos nós”, conclui o pediatra.

 

 

Uma dica

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