Condomínios

Na estreia da Seção Condomínios, confira o que os síndicos podem fazer para cortar custos sem perder a qualidade na gestão

Manter a boa gestão do condomínio significa alcançar os melhores resultados, sem deixar de lado a economia. Nesse sentido, cortar os desperdícios é fundamental, mas esse objetivo precisa ser alcançado considerando alguns critérios.

Confira o que os especialistas têm a dizer sobre o assunto!

O mais barato nem sempre é o melhor

O professor Alexandre Sá de Oliveira, pesquisador de Gestão Sustentável e Empreendedorismo da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina, considera que, para alcançar o equilíbrio entre uma boa gestão e a contenção de gastos no condomínio, é interessante que o síndico se espelhe nas boas práticas empresariais. Assim, como qualquer administrador, ele deve buscar reduzir os custos, sem abrir mão da qualidade.

De fato, a prática dos “três orçamentos” é necessária. Porém, para Oliveira, ela não deve condicionar a escolha sempre na direção do menor preço. “Às vezes, a melhor opção é a de valor intermediário, por aliar custo-benefício”, ressalta Oliveira.

Porém, para evitar transtornos na prestação de contas, o professor recomenda que o síndico busque apoio do conselho fiscal na hora de decidir. Nas despesas de alto valor, que dependam da decisão em assembleia, o tema deve ser exposto aos condôminos de maneira que fiquem claras as vantagens que representariam a despesa maior.

Contratos de trabalho inteligentes

Segundo o presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (Aabic), José Roberto Graicche Júnior, o custo da mão de obra chega a representar até 60% das despesas de um condomínio. Porém, Graicche considera que esse montante pode ser enxugado e dá uma dica. “É importante ter uma escala de trabalho bem organizada, para evitar horas-extras desnecessárias”, recomenda.

Na opinião do professor Oliveira, também é possível firmar contratos de trabalho que estejam de acordo com as reais necessidades do condomínio. “Caso os salões de festas forem muito usados em um prédio, pode-se contratar uma funcionaria intermitente para trabalhar apenas aos fins de semana, possibilidade advinda da reforma da CLT”, exemplifica.

Prevenir é melhor que remediar

“Uma boa manutenção preventiva evita a necessidade de intervenções profundas e de maior desembolso”, considera a professora Lisiane Librelotto, do curso de Arquitetura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Lisiane destaca que, para tanto, os serviços devem ser executados por profissionais capacitados e que sejam devidamente credenciados para executá-los.

Limpeza, pintura, inspeção de tubulações, acompanhamento do consumo de água e energia, manutenção periódica de elevadores e de bombas estão entre as manutenções que ajudam a evitar grandes intervenções. Pensando na sustentabilidade ambiental do condomínio, ela ainda alerta para o tipo de produtos que devem ser usados. “Sempre que possível, deve-se optar por materiais de menor impacto ambiental, com menos energia incorporada e menor emissão de CO2 no processo de fabricação”, recomenda.

Uma boa assessoria reduz custos

Fazer a revisão anual do orçamento ajuda a detectar desperdícios e, consequentemente, reduzir os gastos. Entretanto, para que a revisão não provoque efeito contrário e cause prejuízos, deve haver atenção na dispensa de serviços profissionais.

O advogado Alexandre Callé, especializado em condomínios, alerta para cortes que podem ser prejudiciais, como aqueles que ocorrem ao dispensar serviços, que, muitas vezes, exigem responsabilidade técnica. “Um condomínio precisa da assessoria de engenheiro, contador, advogado e até de um RH, caso tenha muitos funcionários. O síndico não pode dar uma de super-herói, querer fazer tudo, mas se valer de bons profissionais. Caso contrário, o barato sai caro”, avalia.

O advogado recorda uma situação em que o condomínio promoveu a poda radical de 13 árvores sem que houvesse as devidas autorizações, o que resultou em uma multa de R$ 130 mil. “O síndico pediu para o ‘seu Zé’ fazer o serviço e não deu certo. Se tivesse contratado um engenheiro ambiental, este saberia da necessidade de homologar o projeto na prefeitura e o quanto das plantas poderia ser podado”, explica.

Comprar só o necessário

Para o professor de Logística e Gestão de Materiais do curso de Administração Empresarial da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Felipe Gontijo, comprar grandes quantidades de materiais só vale a pena se houver um desconto significativo. “O dinheiro gasto poderia ser utilizado de outras formas ou ser mantido em caixa, o que é importante para casos de emergência”, observa.

Além disso, é preciso ter em mente que grandes estoques de materiais trazem inconvenientes — como o da possibilidade de os produtos vencerem, por exemplo. Fazendo analogia com a boa gestão na construção civil, Gontijo destaca que, nas obras, os materiais são adquiridos conforme o andamento das etapas. “Se ainda está na fase de fundação, não precisa comprar as telhas”, exemplifica.

Para o professor, ter um bom fornecedor, para quem seja possível transferir o esforço gerencial do estoque de materiais, é uma ótima estratégia. “O condomínio pode manter a fidelidade e, como moeda de troca, pedir descontos e ter garantia de disposição maior de produto, em caso de imprevisto”, considera.

Combatendo a inadimplência

De acordo com o advogado Kênio de Souza Pereira, especializado em Direito Imobiliário, não são poucos os casos de elevados prejuízos causados pela inadimplência em condomínios. “Acaba que os apartamentos são desvalorizados em razão de cotas de condomínio elevadas, que poderiam ser menores, caso a inadimplência fosse combatida de forma técnica”, afirma Pereira.

Como antídoto, o advogado recomenda que seja feita a atualização das convenções, que, na maior parte, seguem regras ultrapassadas, que impõem penalidades muito brandas aos inadimplentes. “É ignorado pela maioria da população que os Tribunais de Justiça Estaduais e o Superior Tribunal de Justiça confirmaram ser legal a cobrança de juros de até 10% ao mês no caso do atraso da cota de condomínio e que, diante da inadimplência contumaz, é possível que o devedor seja punido com a multa de 500% do valor da cota, graduada conforme a convenção, com base no artigo 1.337 do Código Civil”, alerta o advogado.

Água e energia

Além da economia de dinheiro, a contenção dos desperdícios de água e de energia elétrica também representa a diminuição dos impactos que o condomínio gera sobre o meio ambiente. Para a professora Lisiane Librelotto, nestes casos, o desperdício se torna proporcional à consciência dos condôminos. “O desperdício de recursos em condomínios compreende o que, usualmente, se desperdiça nos lares brasileiros, acrescido de problemas de gestão da água, da energia, de manutenções, de resíduos, de bens de consumo direto e de bens móveis”, observa a professora.

Lisiane destaca que o desperdício de energia elétrica ocorre em função de fatores que podem ser corrigidos. Nesse aspecto, a professora considera que a substituição de lâmpadas ultrapassadas por outras mais eficientes, a instalação de sensores de presença, o uso de elevadores inteligentes, de aquecedores solares, painéis fotovoltaicos, entre outras soluções, podem ajudar a reduzir o consumo elétrico.

Segundo Lisiane, o desperdício de água, por sua vez, pode surgir da combinação do consumo inadequado com a existência de vazamentos em tubulações. “A inspeção para detecção de vazamentos, uso de caixas de descargas com botões separadores por uso, medidor de água individual para a unidade habitacional, captação e aproveitamento da água da chuva para lavagem de áreas comuns são estratégias que podem ser utilizadas”, conclui a professora.

Fonte: Jornal do Condomínio