RecentesRecentesSaúde & Qualidade de Vida

Dificuldade de analisar riscos colaterais da pandemia está associado à insuficiência de informações, diz pesquisa

Usar máscara adianta? Distanciamento social resolve? Além disso, o que será da economia? Como ficará a educação das crianças e dos jovens? Estas são apenas algumas das múltiplas dúvidas que estão confundindo as pessoas no mundo inteiro e o motivo de tanta incerteza pode estar na falta de informação qualificada sobre a pandemia e sobre os efeitos colaterais que ela gera sobre a sociedade.

Kathleen Pine, professora de Informática e Saúde da Universidade do Arizona, Myeong Lee, professor de Ciência da Informação na Universidade George Mason, ambas nos Estados Unidos, e Kathryn Henne, professora da Escola de Regulação e Governança Global da Universidade da Austrália chegaram a esta conclusão a partir de entrevistas que realizaram com um grupo heterogêneo de 40 pessoas de várias partes dos Estados Unidos, que foram selecionadas de maneira a apresentarem a maior diversidade de idade, localização geografia e dificuldades que estão enfrentando durante a pandemia. Interessado em informação , política e comportamento humano, o trio está finalizando uma pesquisa sobre os trabalhos de risco que estão sendo realizados nesse período de surto da Covid-19, que deve ser publicado em breve,e  o resultados do levantamento integram os dados que consideraram no estudo.

Além da “saúde x economia”

De fato, os pesquisadores perceberam que os problemas econômicos figuram entre as preocupações dominantes dos entrevistados. Perda de emprego, de renda, dificuldade de encontrar trabalho e recessão econômica foram os temas mais frequentes nas respostas do grupo abordado. Entretanto, os riscos de doenças secundárias, ameaças ao bem-estar social e comportamental e a possibilidade da erosão das instituições também foram mencionados como motivos que estão gerando ansiedade nas pessoas.

A perspectiva de não estar bem, de sofrer com uma doença grave e de morrer e o consenso a respeito da maior ameaça sobre idosos e pessoas com condições médicas subjacentes ficaram evidentes como riscos que contrair Covid implicam. Porém, outros temas relacionados às ameaças da doença para a sociedade como um todo e para determinados grupos econômicos também foram mencionados.

Muitos expressaram preocupação com riscos secundários — como os decorrentes do estresse e por morte por outras doenças, como consequência do colapso no sistema de saúde. Preocupações com o bem-estar social e com o comportamento das pessoas e sobre o risco de surgirem doenças mentais também foram percebidas entre as aflições dos participantes da pesquisa.

As ameaças econômicas abrangiam preocupações com perda de emprego e renda, recessão e incapacidade de encontrar trabalho. Como se referiram à doença, os participantes enquadraram o risco econômico de forma ampla em termos de sociedade e especificamente em relação a certas populações, como recém-formados, millennials , proprietários de negócios e pessoas pobres.

Também foram expressadas preocupações especiais com a possibilidade de colapso das instituições, das empresas, dos sistemas educacionais e das artes. Houve que expressasse preocupação maior com as potenciais mudanças sociais que podem advir da pandemia do que com o próprio vírus.

Falha na distribuição das informações

Para a maior parte dos entrevistados, as informações disponíveis sobre a Covid-19 abordam apenas a doença em si, deixando de lado os demais riscos que estão associados à pandemia. Ainda assim, muitas vezes há conflito entre as informações recebidas. Os participantes da pesquisa disseram ter recebido poucas informações úteis sobre como gerenciar as ameaças colaterais que estão percebendo.

De acordo com os pesquisadores, a falta de informações que validem os demais riscos alimentou a sensação de que as autoridades não estão tratando das ameaças urgentes. O trio concluiu que o aconselhamento sobre como lidar com a Covid sem reconhecer outras ameaças contribui para a perda de confiança e, por sua vez, pode prejudicar a aceitação das diretrizes que deve ser seguidas no combate à pandemia.

Os professores verificaram que as pessoas percebem que as mensagens sobre o COVID-19 são fragmentadas e conflitantes. Para eles, isso é perigoso, uma vez que estudos anteriores revelaram que a exposição a mensagens de saúde inconsistentes leva à diminuição da confiança nas fontes  .

O grupo entrevistado pelo trio revelou que, diante das informações muito gerais obtidas a partir das fontes oficiais, as pessoas acabam recorrendo às redes sociais em busca da compreensão sobre os riscos. Ou seja, o relato de uma prima que é enfermeira e trabalha na linha de frente, por exemplo, tende a suprir a deficiência de dados mais claros e precisos sobre os fatos.

Os pesquisadores descobriram que a comunicação informal com especialistas é importante, mas, muitas vezes, esquecida. Eles acreditam que reconhecer o trabalho informal que os profissionais especializados desenvolvem e criar estratégias para apoiá-los pode favorecer a gestão de risco para a população e aliviar a ansiedade durante esse período incerto.

Nesse sentido, para os professores, os canais informais criados por médicos, por exemplo, que muitas vezes traduzem para seus grupos de relacionamento nas redes sociais as notas técnicas relacionadas à Covid-19, também poderiam servir para distribuir as demais informações  úteis ao gerenciamento das outras ameaças que cercam a pandemia.

Talvez, com isso, pelo menos o espaço que hoje é, em grande parte, ocupado pela desinformação sofreria uma concorrência qualificada. Porém, enquanto a informação oficial não chega de forma clara e qualificada, incluindo outros temas que não sejam os específicos da doença, que são importantíssimos, o cidadão deve ficar muito atento para tudo o que consome como informação e, mais ainda, com aquilo que divulga.

 

Para mais informações sobre os temas abordados nessa matéria, acesse os links disponíveis ao longo do texto. Eles remetem às fontes utilizadas aqui. 

Uma dica: os artigos fora da página do Comunidade Ativa que não estiverem em português podem ser traduzidos automaticamente pelo navegador pelo seu navegador. Pra isso, basta clicar com o botão direito em qualquer ponto do texto a ser traduzido e escolher a opção “Traduzir para o português”.