Economia & Finanças

Combatendo o consumismo em tempo de inflação alta

Com a possibilidade de alcançar uma taxa anual de 6,55% até o final de 2022, a inflação voltou a tirar o sono dos brasileiros, o que não é pra menos. Seja nas gôndolas do supermercado, nas bombas de gasolina ou na hora de pagar os boletos, com ela, o consumidor sempre encontra uma surpresa desagradável, que precisa ser enfrentada de alguma forma que permita que as contas fechem no final do mês.

Para encarar com seriedade esse desafio é preciso entender os próprios hábitos de consumo, se esforçando ao máximo para que eles não descambem para o consumismo.

O velho confronto: consumo x consumismo

Essa é uma guerra antiga, que coloca em disputa dois fatores que estão sempre rondando o consumidor e que precisam ser conhecido em sua raiz. Portanto, é sempre bom lembrar que o consumo diz respeito a tudo aquilo que é necessário à sobrevivência digna das pessoas — como, por exemplo, água, alimentação, moradia, vestuário, educação, saúde, lazer etc.. Mais do que isso, os hábitos de consumo definem a própria identidade do consumidor, expressando ao mundo o que ele é, o que ele não é e o que ele aspira ser.

O consumismo, por sua vez, quebra qualquer vinculo com uma necessidade real e se volta para a superfluidade. Ou seja, atendendo a desejos que não são fundamentados no que a pessoa precisa para viver com uma boa qualidade de vida, o consumismo leva aos excessos, que podem trazer sérias consequências para o bolso.

Mantendo a coerência

O consumismo pode ser identificado de maneira muito simples. Por exemplo, ele aparece na forma daquele sapato a mais, que realmente não faria falta e que talvez nunca seja usado, ou do celular do último modelo, que entra pra substituir o de penúltimo modelo, que foi comprado não faz muito tempo e que ainda está novo e funcional.

Para combater o impulso consumista, basta manter a coerência com a realidade, o que pode ser resgatado por um questionamento simples, que deve ser feito na hora em que surge a intenção da compra. Será que, de fato, aquele produto é necessário? Será que o desejo de compra é verdadeiramente pessoal ou ele está sendo estimulado por uma propaganda ou por outra influência externa? É possível pagar à vista? Se há a necessidade de recorrer ao crédito, haverá dinheiro disponível para pagar a fatura que virá? Será aquela a melhor oferta ou há a necessidade de pesquisar um pouco mais?

Fazendo perguntas como essas,  o consumidor não só começa a entender a forma como responde aos impulsos de consumo como também passa a se posicionar de maneira crítica diante do mercado, o que é muito importante para quem deseja economizar. Agindo assim, mesmo que a necessidade de consumo se confirme, o consumidor fará uma compra consciente, na medida da própria necessidade e de acordo com as melhores condições do mercado.

Compulsão

Porém, há momentos em que os impulsos consumistas fogem completamente do controle da pessoa, o que pode estar relacionado a outros fatores, como à  ansiedade, que pode levar à compulsão pela compra. Situações assim — que chegam a ser identificadas como a oneomania, que é o impulso patológico para comprar — podem levar a perdas significativas não só pelo ponto de vista financeiro, mas também nas relações pessoas e de qualidade de vida, e precisam ser vistas da maneira devida por profissionais de saúde.

Porém, para que seja considerado um quadro que requer preocupação pelo ponto de vista médico ou psicológico, o consumismo deve alcançar influência significativa e incontrolável na vida da pessoa, de maneira a comprometer sua que sua saúde financeira, social e emocional, o que acontece somente em casos extremos. Na maioria das vezes, felizmente, apenas um esforço de educação para o consumo se apresenta como suficiente para controlar os impulsos.

Desde pequeno

As necessidades de consumo começam assim que a pessoa nasce. Aliás, na infância, quando o mundo começa a se revelar e a apresentar novos sentidos, é quando de consumir costumam se apresentar de forma mais intensa. Novos brinquedos, novos sabores, novas cores, novas formas, praticamente todas as novidades surgem significam algum estímulo para que a criança consuma.

Por isso, é importante que a educação para o consumo seja iniciada o quanto antes. Assim, é possível evitar que os pequenos se tornem consumistas e levem esse mau hábito para a vida adulta.

Explicar para a criança o valor do dinheiro e a relação que há entre o dinheiro e o consumo e a limitações que essa relação impõe é um ótimo princípio.

Nunca é tarde

Porém, nunca é tarde para começar. Quem não recebeu uma orientação para o consumo consciente ainda na infância pode buscar esse entendimento na vida adulta. Ainda mais quando o consumismo torna ainda mais difícil lidar com tempos de inflação alta.

Vale considerar que o consumo não está diretamente ligado à felicidade. Ao contrário, quando os hábitos de consumo se tornam consumismo, eles pode trazer a infelicidade, que pode vir na forma subjetiva, de uma insatisfação permanente, ou de formas mais objetivas, como as que se revelam como endividamentos, em dificuldades para cumprir os compromissos e  como preocupação.

Portanto, nunca é tarde para que o consumidor busque um novo comportamento e se torne apto a consumir de maneira sustentável, o que é indispensável para enfrentar os tempos de crise.