Você sabia que a criatividade é uma qualidade que pode ser aprendida?
Ainda que poucas pessoas atinjam a genialidade criativa alcançada por gente como Mozart e Leonardo Da Vinci, é fato que a criatividade é uma característica inerente ao ser humano, que é utilizada o tempo todo, até nas rotinas mais simples. Por exemplo, é ela que nos faz planejar o dia, de maneira a permitir um melhor aproveitamento do tempo, ou que nos leva a experimentar diferentes combinações de roupas e de comidas ou mesmo a engatar uma conversa em uma festa.
Porém, há quem apresente essa qualidade de forma mais evidente e produtiva do que a maioria. Então, entre as pessoas que não estão nos patamares mais elevados da criatividade pode surgir a vontade de aprender a ser criativo, o que leva à questão: será que isso é possível?
Para o escritor Pema Duddul, que é professor de Redação, Edição e Publicação da Universidade de Southern Queensland, na Austrália, ainda que haja alguma controvérsia em torno do assunto, existem evidências de que a resposta esta pergunta é um ótimo “sim”.
O que é a criatividade?
Em artigo para o The Converstation, Duddul observa que, para muitos, a criatividade diz respeito a algum traço de personalidade interna que seria característica de um tipo raro de pessoa. Segundo o professor, essa ideia teria raízes na noção de gênio criativo que herdamos dos românticos. “O ideal romântico do gênio criativo é sintetizado na figura do (poeta inglês) Lord Byron – taciturno, excêntrico, solitário, difícil. Essa noção romântica nos leva a acreditar que os tipos criativos não são apenas raros. Eles nascem assim. Eles são nascidos e não são criados. Assim, as pessoas não poderiam ser ensinadas a serem criativas. Elas simplesmente são ou não são”, diz o escritor.
Entretanto, Duddul destaca que, nas últimas décadas, estudos geraram muitas evidências que vão além de refutar a ideia de que a criatividade é uma característica inata, indicando que, na verdade, ela é pode ser aprendida.
Pesquisas
Duddul explica que as pesquisas sobre criatividade ocorreram principalmente nos campos da psicologia e da neurociência. “A evidência mostra que a criatividade é um comportamento aprendido. Não se restringe a pessoas excepcionais e nem mesmo é uma atividade solitária. A criatividade, mostram as evidências, é mais frequentemente engajada socialmente e frequentemente empreendida em situações de grupo”, observa.
Segundo o professor, as pesquisas demonstraram que a criatividade não é uma qualidade mal definida, que, de alguma forma, seja esotérica. “É um conjunto de abordagens cognitivas que geram ideias inovadoras. Basicamente, a criatividade é apenas uma maneira de pensar e de agir diferente da maneira como normalmente somos encorajados a pensar e a agir”, afirma.
Aprendizado
Duddul ressalta que o modelo dominante de ensino atual, que ele define como sendo de “instrução direta”, tem uma rotina predominantemente de repetição. “Na instrução direta, basicamente recebemos informações ou técnicas que nos pedem para lembrar ou assimilar. A ideia de que a instrução direta é o modelo ideal de ensino está, felizmente, em seu fim, mas ainda é como a maioria de nós foi ensinada. Portanto, é perfeitamente razoável esperarmos que, se a criatividade fosse ensinada, seria ensinada usando esse método”, acredita.
O professor afirma que alguns aspectos da criatividade podem ser ensinados pela instrução direta, mas outros não. “Parte de aprender a ser criativo é adquirir conhecimento sobre nosso campo de atuação. Podemos ensinar a história das ideias na arte visual, poesia ou física e mostrar os benefícios de pensar de forma diferente nessas disciplinas. Podemos demonstrar que as inovações na física, na poesia e nas artes visuais são muitas vezes rupturas com a tradição, afastamentos da sabedoria ou de crença recebida”, diz.
Duddul não menospreza a instrução direta, que, para ele é valiosa para mostrar como as coisas são feitas — por exemplo, como a tinta pode ser aplicada para dar textura, como os átomos interagem entre si e como o espaço em branco em uma página dar vida a um poema. “No entanto, ensinar criatividade precisa ir além da instrução direta. Precisa ser um tipo de ensino relacional em que o professor orienta, encoraja e inspira o aluno. Para ensinar criatividade precisamos de ensino criativo e de professores criativos. Não podemos esperar ser mais criativos se aqueles que nos ensinam não são capazes de nos inspirar e encorajar”, considera.
Para o escritor, professores criativos precisam ser especialistas em sua disciplina e também especialistas em ensinar criativamente. “Com muita frequência, supomos que o sucesso em um campo de atuação qualifica alguém para ensinar. Este não é o caso. Ensinar é, em si mesmo, um empreendimento criativo que requer um verdadeiro compromisso e experiência. Acima de tudo, os professores de qualquer coisa precisam ter confiança em seus alunos, precisam acreditar que seus alunos podem aprender o que estão ensinando, que seus alunos podem adquirir a criatividade de que precisam e se tornarem grandes em seus campos escolhidos. Como observou o estimado especialista educacional Ken Robinson, você pode ser criativo em qualquer coisa. Criatividade é simplesmente ‘o processo de ter ideias originais que tenham valor'”, conclui Duddul.
Uma dica
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