Cultura

Com a dançarina japonesa Michiru Sadame, deu samba no lugar do nihon-buiyou

Natural de Osaka, Japão, a dançarina e professora de dança Michiru Sadame explica que nihon-buyou é o no me dado à tradicional dança japonesa que se caracteriza por movimentos bem lentos e suaves e por demarcações com as mãos, que são como se a pessoa estivesse desenhando no ar. De fato, na aparência, Michiru se encaixa naquele estilo e passa a impressão de que poderia dar belos espetáculos de buyou.

Porém, se você espera encontrá-la vestindo um quimono e dançando com aquela suavidade clássica, prepare-se para uma ótima surpresa. Afinal, a praia de Michiru é o samba, que ela põe pra ferver com talento e gingado que muitas brasileiras não têm.

Capoeira

O interesse da dançarina pelo Brasil e pelos nossos ritmos surgiu em 2007, quando, por intermédio de um brasileiro, ainda em Osaka, ela conheceu a capoeira. “No primeiro momento, eu não tive interesse. Mas, as pessoas do grupo tinham uma energia muito positiva, que acabou me cativando”, ela conta.
Naquele mesmo ano, a convite de um dançarino que percebeu que a japonesa tinha gingado, Michiru veio pela primeira vez ao Brasil, onde participou de eventos de dança. O contato com o país fez com que o samba chamasse mais a sua atenção.

Talento nato

De volta a Osaka, a dançarina teve aulas de jazz com uma professora que também ensinava samba. Foi a senha para que ela decidisse que era a hora de começar a sambar.

O talento de Michiru para o molejo do Brasil logo veio à tona, fazendo, inclusive, com que ela se tornasse professora da dança no Japão. “Por incrível que pareça, o ritmo brasileiro entrou naturalmente no meu corpo e na minha mente e assimilei de forma rápida. Não foi algo que aprendi treinando. Meu coração pulsava no mesmo ritmo. Poderia dizer que foi algo de nascença, que despertou tarde, por eu não estar em contato com o samba desde pequena”, ela considera.

Certamente, foi melhor tarde do que nunca! Afinal, quando o samba entrou de vez na vida de Michiru, ela foi levada a novas experiências e a conexões cada vez mais fortes com o Brasil. Como a do Carnaval 2016, quando ela foi passista na Escola de Samba Pérola Negra, de São Paulo, e a de 2023, que trouxe um novo capítulo para a história da dançarina e, de brinde, revelou a ela uma boa coincidência.

Sem conhecer qualquer conexão anterior com o bairro, Michiru foi convidada para participar do concurso de Rainha da Bateria do Bloco Caricato Os Aflitos do Anchieta, do qual saiu vencedora. “Fiquei bem emocionada, porque foi uma quebra de paradigma para mim. Eu pensava que, apesar do esforço que eu fizesse, jamais conseguiria ser vista além daquela impressão inicial de surpresa, por eu ser uma japonesa sambando”, ela diz.

Para completar a emoção, Michiru acabou descobrindo uma grande coincidência, que, junto com o samba, a liga diretamente ao Anchieta. No evento de eleição da Rainha da Bateria, o marido dela, Hermeto, contou que foi criado no bairro, onde, quando criança, via o Aflitos ensaiar. “Parece coisa do destino”, imagina.

Felizmente, deve ser coisa de um destino bem brasileiro, que gosta muito do Anchieta. Em vez de fazer de Michiru uma dançarina de nihon-buyou, o tal deu a ela muito samba no pé, um marido do Anchieta e a tornou Rainha da Bateria do bloco que defende o nome do bairro na Afonso Pena.