Cidadania

Última quimo. Buzine!

por Diorela Kelles*

Assim dizia a mensagem no vidro traseiro do carro que passou pela Joaquim Linhares na manhã do dia 3 de julho. Do meu posto na Amoran, escutei um buzinaço e cheguei a fechar os olhos e a suspirar: “por favor, que não seja algo que leve a uma briga política”. Não era! Era o símbolo da vitória de alguém, que nem conhecíamos, mas que já aplaudíamos.

Existe uma palavra budista que sempre me inspira. Falo do vocábulo-expressão “mudita”, que significa “a satisfação que advém de ver o bem-estar de outras pessoas”, que gosto de traduzir como “ficar feliz com a felicidade do outro”.

Esta palavra é também um bom indicador de como anda a nossa saúde mental: “consigo me alegrar com a vitória de outra pessoa?”.

Assim, a pergunta parece fácil. Vou complicar um pouco: “consigo me alegrar com a vitória de outra pessoa, mesmo quando eu estou vivendo dificuldades?”.

Quando tudo está bem, é fácil se alegrar pelo outro. Mas, e quando os problemas estão batendo na porta? Neste caso, um dos melhores recursos é perceber que vivemos em comunidade exatamente para isso. Enquanto uns precisam de cuidados, outros podem cuidar e essa roda gigante está sempre em movimento.

Pode parecer que não tem nada a ver conosco uma pessoa celebrar a conquista de uma cura do seu lado. Mas, este pode ser o exemplo que precisaremos quando um amigo passar por algo parecido, ou mesmo quando nós estivermos enfrentando uma caminhada semelhante. Uma hora aquela mensagem vai virar o sonho de outra pessoa: Última quimio. Buzine!

Naquela manhã, encaramos assim! Era uma mensagem de valentia, de superação e também um exemplo. Com mais carros seguindo a procissão, concluímos que era uma festa de amigos, da família, de muitos. Logo se tornou a festa do bairro inteiro.

No Grupo da Amoran, no WhatsApp, foram mais de 24 curtidas na mensagem que compartilhava a foto do carro. Na aula de Inglês, oferecida no salão da Amoran, os alunos e a professora saíram para aplaudir as buzinas. Foi assim, uma manhã-mudita de muito barulho! Foi um prazer assistir à felicidade do outro.

* Diorela é advogada, atriz, redatora e colaboradora da Amoran