Saúde & Qualidade de Vida

Revisando controvérsias e evidências sobre a Covid-19

Como se estivesse consertando um avião em pleno voo, desde o início da pandemia da Covid-19, a comunidade científica vem se desdobrando em dois campos de batalha, que estão intimamente ligados por uma mesma guerra e que muitas vezes se confundem. Na linha de frente, mais próxima à sociedade, há quem esteja buscando os meios para combater o SARS-CoV-2 de forma direta, o que faz indicando medidas coletivas e individuais de prevenção, desenvolvendo vacinas, pesquisando remédios e apontando aos médicos possíveis métodos de tratamento da doença. Em uma retaguarda bem próxima do front, há a parcela dos pesquisadores que procura entender melhor as características de transmissão do vírus e sobre como ele sobrevive nos mais variados ambientes. subsidiando assim os estudos relacionados ao combate e à prevenção.

Na medida em que as conclusões vão surgindo, novas informações são passadas à população quase que em tempo real, o que pode provocar alguns conflitos. Como estamos diante de um problema sanitário recente e inédito, que está sendo conhecido em pleno surto, é natural que o que se diz hoje sobre a Covid-19 possa ser contestado por uma nova informação de amanhã. Afinal, estudos mais aprofundados e experiência com a pandemia colocam mais luz sobre a situação, podendo confirmar, modificar ou invalidar conclusões anteriores.

Contudo, uma mudança de entendimento sobre determinada abordagem não invalida o que os cientistas já conhecem sobre o novo coronavírus. Portanto, sempre vale a pena revisar o que ainda há de controvérsias e o que já é evidente a respeito da doença e das formas de prevení-la.

O Comunidade Ativa selecionou alguns pontos que devem merecer a sua atenção.

Lockdown

No último dia 8 de outubro, uma declaração encabeçada pelos renomados epidemiologistas Martin Kulldoff, Sunetra Gupta e Jay Battacharya colocou mais lenha numa fogueira que tenta queimar a validade do lockdwon como medida apropriada de enfrentamento à Covid-19. No manifesto intitulado Declaração de Great Barrington, que já teria recebido a adesão de milhares de cientistas e de profissionais de saúde do mundo todo, os epidemiologistas corroboram o que alguns chefes de estado vêm repetindo há meses, sempre sob contestação de outros argumentos científicos.

Em síntese, a recente declaração afirma que o fechamento amplo de estabelecimentos e o rigor no distanciamento social prejudicam a sociedade em grau maior do que os benefícios que a medida pode oferecer. Defendendo o que chamam de Proteção Focalizada, os especialistas entendem que apenas os idosos e pessoas doentes devam ser apartadas do convívio social, enquanto o restante da sociedade poderia seguir a vida normalmente.

Concidentemente, a declaração foi publicada poucos dias depois de Madri se tornar a primeira capital europeia a anunciar a implantação de um novo lockdown. As autoridades sanitárias locais entendem que, ainda que com rigor menor do que o adotado anteriormente, a medida é necessária para conter o novo ciclo de contágio que surgiu após a flexibilização das regras de distanciamento social na cidade.

Diante desse desencontro de opiniões, permanecem pelo menos duas questões. A primeira é entender até que ponto é possível liberar a sociedade para as atividades normais. A segunda está na medida de confiança que pode ser depositada sobre esta mesma sociedade para que ela consiga focalizar a proteção das pessoas vulneráveis. Vale considerar que, em várias ocasiões — como na recente inauguração de uma loja de departamentos em Belém, no Pará, que juntou uma multidão  —  as pessoas evidenciam que não estão preparadas para aplicarem o bom senso na vida diária.

Distanciamento social

O lockdown é a medida mais radical para garantir o distanciamento social. Contudo, mesmo sem seguir regras tão rígidas, manter as pessoas distantes umas das outras, de fato, tem figurado como uma forma eficaz de combater a pandemia.

Como já é de amplo conhecimento, o novo coronavírus pode ser transmitido de uma pessoa a outra por meio do toque, como o de um aperto de mão, por objetos e superfícies contaminadas e pela emissão de gotículas de saliva ou de excreções, que podem acontecer quando uma pessoa infectada espirra, tosse, canta ou fala. Além disso, também já é sabido que a concentração de vírus está diretamente relacionada com a gravidade da Covid-19. Ou seja, quanto mais vírus foram absorvidos pelo paciente, mais graves serão as manifestações da doença.

Portanto, como a proximidade entre as pessoas favorece os eventos de transmissão, é  evidente que manter o distanciamento mínimo de dois metros entre elas é uma medida necessária. Ao mesmo tempo, como o vírus tende a ficar mais concentrado em ambientes fechados, a necessidade de distanciamento social faz com que seja recomendável evitá-los.

Contágio ao ar livre

Uma ideia equivocada tem levado as pessoas a acreditarem que estando ao ar livre elas estão fora de risco de contrair a Covid-19. De fato, estudos comprovaram que ambientes mais ventilados oferece menos risco do que aqueles que contam com circulação deficiente de ar. Porém, isso não significa que o contágio não possas surgir em ambientes abertos.

Estudos já comprovaram que o SARS-CoV-2 pode ser transmitido pelo ar, mesmo a grandes distâncias. Inclusive, é sabido que uma corrente de ar pode ajudar a dispersar gotículas respiratórias que podem servir como meio de transporte para o vírus.

Inclusive, um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, indica que mesmo em um lugar muito ventilado ou ao ar livre o risco de contrair a doença pode ser alto em determinadas circunstâncias — como a de não estar muito distante de alguém infectado que esteja cantando ou gritando.

Os pesquisadores do MIT prepararam uma tabela que relaciona os riscos de contágio nos variados ambientes. Confira abaixo no infográfico da BBC.

Máscara

O uso de máscara permanece como um dos grandes incômodos para algumas pessoas. Algumas, menos conformadas e sem disposição para aceitarem comportamentos que visam o bem coletivo, ainda desafiam as recomendações dos especialistas e insistem em não usar máscaras em locais públicos, o que é obrigatório por lei em todo o país — Lei Federal nº 14.019.

É importante destacar que a validade e a necessidade do uso deste acessório indispensável vêm sendo reafirmadas seguidamente por vários estudos. A máscara não só barra a emissão do vírus por uma pessoa infectada e pode evitar que uma pessoa sã o absorva como, na pior das hipóteses, quando contágio não é completamente bloqueado, evita que grandes concentrações de vírus sejam absorvidas.

É importante ainda ressaltar que todas as alegações sobre os riscos que as máscaras oferecem foram refutadas pelos especialistas. Isso significa que a máscara não provoca a hipóxia, que a baixa oxigenação do sangue, e não oferece riscos de intoxicação por CO2, como têm afirmado algumas pessoas.

Benefícios adicionais das medidas de prevenção

Os hábitos sanitários que se tornaram mais intensivos desde o início da pandemia — como o de higienizar compras e objetos que tiveram contato com o meio exterior, lavar as mãos com frequência e usar álcool gel — deveriam existir desde sempre. Certamente, se as pessoas já agissem assim rotineiramente, uma série de microrganismos causadores de doenças teriam sido eliminados, evitando uma série de doenças.

Estas medidas aliadas ao distanciamento social e ao uso de máscaras podem ser as responsáveis por consequências positivas, inclusive ao barrar outros tipos de vírus. Esta possibilidade está sendo considerada, por exemplo, diante da redução do número de casos de gripe no Brasil, que, segundo a Fiocruz, atingiu o nível mais baixo desde 2015, e na Dinamarca, que teve uma temporada de gripe bastante leve no inverno passado, na comparação com anos anteriores.

Imunidade x reinfecção

Grande parte das pessoas que já contraíram a Covid-19 acredita estar imune ao vírus, o que passa uma falsa sensação de segurança. Da mesma forma como ocorre com outros tipos de doenças virais — como a gripe e a dengue —, há indícios de que o SARS-CoV-2 também possa infectar novamente pessoas que já tenha tido contato com o vírus anteriormente.

Em vários países já foram relatados casos de reinfecção. Valem destaque os casos da holandesa que morreu após ser contrair o o novo coronavírus pela segunda vez, do americano que teve uma reincidência com sintomas mais grave do que na primeira infeção e os 62 dois casos suspeitos no Brasil, entre os quais há pelo menos um já confirmado.

 

Para mais informações sobre os temas abordados nessa matéria, acesse os links disponíveis ao longo do texto. Eles remetem às fontes utilizadas aqui. 

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